Articulistas da Equipe IFEHP: Lindemberg Castro, Eduardo Silveira, Heloísa Canali, Fábio Diório, Ruth Barros, Raimundo Filho.
Desde a década de 1970, quando Herculano Pires lançou as bases da
Pedagogia Espírita, o movimento espírita em geral, mesmo sem
conhecer a proposta a fundo, ignora e até faz campanha contra as
ideias de Herculano acerca da educação espírita. Ainda atualmente,
a resistência à Pedagogia Espírita continua, e de tempos em tempos
vemos campanhas contrárias sendo propagadas entre os espíritas
tradicionais religiosos, mas também, e essa é a grande novidade
atual, partindo de parte dos espíritas considerados progressistas.
Assim como em 1970, quando Herculano Pires publicou o número 1 da
Revista Educação Espírita, através da Edicel, em 2024 o cenário
não é muito diferente, embora os claros avanços da Pedagogia
Espírita, sobretudo a partir da fundação da Editora Comenius em 1998, da fundação da ABPE – Associação
Brasileira de Pedagogia Espírita, em 2004, da criação do Curso de Pós-graduação em Pedagogia Espírita em 2005, e da fundação da Universidade Livre Pampédia em 2015, projetos coordenados por Dora
Incontri, e que prestam grandes serviços educacionais a partir da
educação espírita.
Ao
criar a Revista Educação Espírita, Herculano sofreu toda sorte de
“cancelamentos” por parte do movimento espírita da época; foi
acusado de autopromoção, foi acusado de fazer uma interpretação
equivocada do Espiritismo, e também foi acusado de tentar promover
lucro a partir da revista. Poucos foram aqueles que o apoiaram além
de Frederico Gianini, então editor-proprietário da Edicel, o que
fez com que a Revista tivesse apenas seis números, encerrando as
suas atividades em 1974. E aqui destacamos os nomes de Humberto
Mariotti e Deolindo Amorim, dentre os confrades apoiadores do projeto
desde o início. Ou seja, a indiferença do movimento espírita,
transformada em difamação, foi a tônica daquele momento, e assim o
movimento espírita ignorava mais uma vez (e hoje não é diferente),
as condições materiais da existência, em não compreender que uma
revista impressa sobretudo naquela época, sem internet, precisava de
recursos financeiros para se manter. A incompreensão também ocorreu
pelo preceito falseado de acusar de autopromoção todos os
pensadores espíritas autônomos, capazes de desenvolver filosófica
e cientificamente o legado de Allan Kardec; certamente Herculano não
foi o primeiro a ser acusado desta forma, pois, para o movimento
espírita institucionalizado, era e é um lugar-comum utilizar dessa
“metodologia” de invisibilização dos pensadores críticos e
autônomos.
O
Espiritismo é um projeto de educação, foi a compreensão de
Herculano, e nós do IFEHP – Instituto de Filosofia Espírita
Herculano Pires, endossamos a premissa mais básica da Pedagogia
Espírita: “o educando é um ser reencarnado”. Tal concepção
veio para revolucionar a nossa compreensão da educação do
espírito, mas não é uma concepção para a “vida futura numa
colônia espiritual”, é algo a ser implementado como proposta
pedagógica em um tempo histórico e social. E nesse sentido, também
declaramos o nosso apoio irrestrito à ABPE, nas pessoas de Dora
Incontri e Maurício Zanolini, que têm se dedicado a uma tarefa
pedagógica gigantesca desde 1998 com a fundação da ABPE e todos os
projetos desenvolvidos a partir de então, sobretudo a pós-graduação
livre em Pedagogia Espírita, a Universidade Livre Pampédia e a
Editora Comenius. Os projetos da ABPE são como um oásis no meio
espírita encharcado de igrejismo, de fundamentalismo e de concepções
tacanhas, uma vez que oferece um robusto material crítico e de
pesquisa em forma de cursos e de livros.
Infelizmente,
continuamos no mesmo debate de 1970, pela incompreensão sobre a
questão dos custos para manter um projeto como a ABPE ou qualquer
outro projeto de educação espírita. Mesmo entre espíritas
progressistas essa questão por vezes é tabu, o que mostra como o
movimento espírita religioso foi eficiente em criar um arquétipo de
gratuidade como sinônimo de simplicidade e humildade, uma verdadeira
pieguice; e esse arquétipo possui como fundamento a caridade
compreendida de forma enviesada, desenvolvido na medida para manter
mentes e corpos dóceis, dependentes da lógica que ignora as
condições práticas da existência.
Enquanto
o movimento espírita se debate sobre essa questão inócua, há no
Brasil centenas de escolas pautadas na Pedagogia Waldorf, criada a
partir da Antroposofia, escola espiritualista fundada por Rudolf
Steiner; e para manter toda essa estrutura, há custos, obviamente, e
as Escolas Waldorf cobram mensalidades, pagam professores e
coordenadores (afinal, são trabalhadores), fazem formações em 21
estados brasileiros, compram materiais diversos para o funcionamento
das escolas, etc. E não vemos nenhum questionamento sobre como essa
estrutura é mantida a partir de condições práticas, materiais.
Seria ingenuidade achar que a caridade material seria suficiente para
manter um projeto de educação tão robusto como o da Pedagogia
Waldorf, que em 2020 completou 100 anos de existência e é apontada
pela UNESCO como capaz de responder aos desafios do nosso tempo. Ou
seja, nós espíritas estamos mais do que atrasados, presos a um
debate purista e moralista.
Herculano,
assim como a ABPE e nós do IFEHP, compreendia o espiritismo também
como um projeto cultural; aliás ele sustentava fortes críticas
contra o movimento espírita religioso que não via os centros
espíritas como centros culturais de difusão de uma cultura espírita
conectada com o mundo, com o tempo histórico da reencarnação. Por
isso mesmo, ele propôs a criação das Escolas de Espiritismo,
escolas essas que não deveriam esperar pela boa vontade de um
mecenas, para que pudessem funcionar a contento; na proposta de
Herculano, as escolas teriam que gerar recursos para pagamento de
espaço, de professores, de coordenadores e diretores, de materiais,
espaço e recursos para formar uma biblioteca, etc. Os cursos
deveriam ser de nível acadêmico e universitário, e conectados com
as áreas do conhecimento humano, desenvolvendo assim um trabalho
cultural e educacional.
Herculano
até convida os “mecenas espíritas” a direcionarem seus vastos
recursos não somente para projetos caritativos, mas também para
projetos educacionais; “os espíritas ricos deverão pensar
seriamente na urgência da criação das Escolas de Espiritismo”
(Pires, 2004). Contudo, passados mais de 50 anos desta proposição,
poucos “mecenas espíritas” se preocupam com o desenvolvimento
cultural do espiritismo.
A
ABPE possui o legado direto de Herculano Pires quanto à Pedagogia
Espírita, e implementou o que o próprio filósofo não viu sendo
possível em sua época. O IFEHP se coloca como irmão da ABPE, pois
o instituto surgiu a partir da leitura do livro “Pedagogia
Espírita”, do Herculano, e há 15 anos temos estado na jornada em
prol da filosofia e da pedagogia espíritas.
Convidamos
a todos e todas a lerem duas obras fundamentais para compreendermos
todo o debate em torno das questões que levantamos acima; a primeira
é “Pedagogia Espírita”, de Herculano Pires, e a segunda é
“Pedagogia Espírita: um projeto brasileiro e suas raízes”, de
Dora Incontri. Sem o conhecimento mínimo dessas obras e suas
proposições, toda e qualquer posição sobre a pedagogia espírita
se torna uma mera opinião, portanto, é necessário que conheçamos
sobre aquilo sobre o qual falamos, é um preceito básico.
E
convidamos também a todos e todas a apoiarem os projetos da ABPE, da
Editora Comenius, da Universidade Livre Pampédia, do IFEHP, e de
todos os grupos que produzem conhecimento e cultura espíritas de
forma autônoma, livre e kardecista. Como Herculano bem escreveu,
precisamos desenvolver uma formação cultural-espírita como legado,
pois o interesse pela assistência social não é suficiente para que
a cultura espírita tenha a sua condição de cidadania no mundo.
Parece
que realmente nos mistérios da vida nada acontece por acaso! No ano em que o
IFEHP completa 13 anos, o Brasil passa por um momento decisivo e urgente de
mudanças a que todos nós somos chamados a colaborar enquanto espíritos
encarnados, porque não podemos pecar por omissão, afinal, o bem que se deixa de
fazer também é um mal.
Ao
longo desses 13 anos experimentamos diversos cenários, mas um deles sempre
esteve conosco: o desafio de se estudar e difundir a Filosofia Espírita em um
país que já tem dificuldades em lidar com a Filosofia, e no seio de um
movimento espírita institucionalizado, religioso e que não conhece os próprios
pensadores espíritas clássicos. Por isso, o IFEHP está afeito desde a sua
fundação às contracorrentes, fazendo o seu trabalho à revelia de condições
favoráveis, criando as suas próprias condições.
Jamais
imaginávamos que, de um grupo de estudos pequeno fundado em 2007 por jovens
idealistas, fôssemos chegar ao IFEHP fundado em 2009 e toda a jornada que
estava a nos esperar nos caminhos da filosofia. Com o nosso primeiro nome
homenageamos o estado do Ceará, um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil, e
foi assim que nasceu o IFEC – Instituto de Filosofia Espírita do Ceará;
posteriormente decidimos homenagear o nosso querido filósofo Herculano Pires, e
foi assim que nasceu o nome IFEHP – Instituto de Filosofia Espírita Herculano
Pires.
Em
nossa fundação e ações posteriores, seguimos os passos de instituições que nos
inspiraram e ainda nos inspiram até hoje, como a ABPE – Associação Brasileira
de Pedagogia Espírita e a CEPA, atualmente designada como Associação Espírita
Internacional, que tem como um dos seus fundadores outro grande pensador
espírita que inspira a nossa pesquisa filosófica: Humberto Mariotti.
O
IFEHP sempre prezou pela independência institucional, não tendo nunca se
filiado a nenhum órgão federativo oficinal, pois entendemos que a liberdade
institucional é necessária para o desenvolvimento e o amadurecimento do
pensamento, ainda mais em se tratando de uma instituição filosófica, que por
sua natureza é livre para se expressar e para produzir conhecimentos e apontar
caminhos de pesquisa e de ação. Portanto, o IFEHP é um coletivo essencialmente
livre-pensador, e com o espírito do livre pensamento é que conduzimos todas as
nossas ações formativas. É por isso também que o IFEHP se posiciona contra a
criação de uma instituição que represente os espíritas progressistas, sob pena
de cometermos os mesmos erros da institucionalidade que já presenciamos no meio
espírita ao longo de mais de um século, e também porque os coletivos
progressistas devem manter sua liberdade de ação e de pensamento, atuando em
regime de colaboração e não de submissão a quem quer que seja. Ninguém
representa os espíritas progressistas a não ser eles mesmos, em sua diversidade
e em sua liberdade.
O
IFEHP insere-se hoje no movimento espírita progressista como um coletivo
alinhado à filosofia social e à pesquisa filosófica, sociológica, histórica,
antropológica e educacional, aproveitando ao máximo as suas vertentes de
pesquisa e de atuação. Como coletivo maduro e que continua exercitando
aprendizados, o IFEHP mantém-se firme em seus propósitos de ação no mundo,
sempre com os olhos voltados para a epistemologia espírita kardeciana em
diálogo com a tradição filosófica e com a filosofia espírita presente nos
pensadores e pesquisadores que estudamos.
Após
13 anos, continuamos mais fortes em nossos objetivos: 1) realizar letramento
filosófico no meio espírita, 2) pesquisar e difundir os pensadores espíritas
clássicos, sobretudo os progressistas, 3) promover o diálogo da Filosofia
Espírita com a tradição filosófica, e 4) produzir materiais formativos como
publicações, cursos, seminários, mesas de debates, etc.
Por
tudo o que expomos até aqui, localizamos o IFEHP na perspectiva da Filosofia da
Ação, conceito cunhado por Herculano pires, no prefácio de um livro de Humberto
Mariotti. Na perspectiva da Filosofia da Ação, não podemos nos omitir frente
aos contextos sócio-históricos da reencarnação, ou seja, não podemos tratar a
reencarnação como mero laboratório de experiências individuais reduzidas à
reforma íntima. Somos chamados a transformar o mundo e a nós mesmos tanto
quanto pudermos.
É na
hora extrema em que nos encontramos que o IFEHP vem a público declarar o
voto útil e necessário na candidatura Lula/Alckmin 13 e nas legendas e candidaturas
que a apoiam, para decidir a eleição em primeiro turno – conforme apontam
as pesquisas de intenção de voto - por entendermos que é a única possibilidade
viável, nesse momento, para derrotar o projeto político da extrema-direita do
atual governo: uma política de morte, desemprego, fome e descaso com a
população, o que jogou 33 milhões de brasileiros no mapa da fome e da
insegurança alimentar. É importante também ampliarmos a quantidade de
parlamentares progressistas, para que haja uma governabilidade voltada para s
justiça social e para o resgate de políticas públicas que beneficiem a
população, sobretudo a mais pobre.
A
necropolítica foi a tônica da gestão do atual governo durante a pandemia de
COVID-19, acarretando em milhares de mortes evitáveis se tivéssemos um combate
eficiente de uma gestão responsável e comprometida com a vida. Nunca poderemos
nos esquecer disso, pois as ações irresponsáveis do atual governo contra o povo
brasileiro durante a pandemia deverão ser lembradas como um genocídio.
Tivemos
um membro do IFEHP, um grande amigo, vitimado em 2021 pela COVID-19, em um
período em que o Brasil ainda se debatia sobre a questão da vacina, mesmo já
tendo vacina disponível ao redor do mundo. Nosso manifesto também vem em
memória de Eugênio Rodrigues Lemos, que estará sempre conosco em nossos
corações.
Por
fim, agradecemos aos nossos queridos amigos e mentores espirituais dedicados à
divulgação da Filosofia Espírita: Herculano Pires, Humberto Mariotti, Manuel
Porteiro, Amália Soler e Anália Franco; e ao mestre Allan Kardec por aceitar o
desafio de viabilizar a encarnação do Espiritismo no mundo.
Sigamos
firmes e confiantes em um Brasil com mais amor e mais justiça social para
todos, e continuemos com nosso trabalho de divulgação da filosofia espírita,
pois há ainda muito a pesquisarmos e há ainda muito a fazermos. Que assim seja!
MANIFESTO
DO FÓRUM DE MULHERES ESPÍRITAS DO IFEHP PELO VOTO ÚTIL
NA CHAPA LULA/ALCKMIN13, PARA DECIDIR A ELEIÇÃO DE
2022, EM PRIMEIRO TURNO.
O
Fórum de Mulheres Espíritas do Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires
(IFEHP), composto por mulheres espíritas de várias regiões do Brasil, ante o
cenário político eleitoral brasileiro, em 2022, e a
poucos dias do pleito, vem a público declarar o voto útil e
necessário na candidatura Lula/Alckmin 13 e nas legendas que o apoiam, para
decidir a eleição em primeiro turno – conforme apontam as pesquisas de intenção
de voto - por entendermos que é a única possibilidade viável, nesse momento,
para derrotar esse projeto político da extrema-direita do atual governo: de
morte, fome e descaso com a classe trabalhadora desse país. Um projeto
lastreado por um histórico de gestão irresponsável, necrófila e destruidora dos
bens públicos brasileiros e dos direitos da classe trabalhadora; de posturas e
atitudes machistas, misóginas, racistas, com desdobramentos no aumento da
violência contra a mulher e dos números de feminicídio, bem como a
naturalização com que vem sendo tratada a gestação de crianças por estupro, em
situações de vulnerabilidade, inclusive fechando o debate para a questão da
descriminalização do aborto.
Para
o espiritismo, o homem e a mulher são iguais perante Deus e tem os mesmos
direitos (Questão 817, Lei de Igualdade, Cap IX, Livro Terceiro, O Livro dos
Espíritos). Com a Doutrina Espírita, a igualdade da mulher não é mais uma
simples teoria especulativa; não é mais uma concessão da força à fraqueza, mas
é um direito alicerçado nas próprias leis da Natureza. Dando a conhecer estas
leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, assim como abre
a da igualdade e da fraternidade. (Revista Espírita, Janeiro de 1866). Nessa
esteira, nosso Manifesto foi elaborado no sentido de convidar todas as mulheres
a enfileirarem-se e abraçarem conosco essa ação coletiva urgente e relevante,
pois queremos e precisamos ir além nas conquistas de políticas públicas de
gênero dos governos progressistas do passado, destruídas pelo atual governo.
As
gestões progressistas do passado deixaram um legado para as mulheres
brasileiras e nós precisamos lutar por retomar o que foi destruído e também
ampliar os direitos das mulheres e minorias nos próximos governos. Destacamos
algumas iniciativas de políticas públicas do legado dos governos Lula e Dilma
no campo das políticas para as mulheres, ratificando que continuaremos na luta,
porque queremos e merecemos muito mais.
• Criação, em 2003, da Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres, sendo a responsável principal pela elaboração e monitoramento
do Plano de Políticas para as Mulheres;
• Lançamento do Programa Bolsa Família, em 2003. Ênfase no
protagonismo feminino no núcleo familiar quando da determinação que, sempre que
possível, fosse da mulher a titularidade do cartão de pagamento.
• Transformação da Central de Atendimento à Mulher (disque 180) em
Disque-Denúncia que, em 10 anos, atendeu a quase 5 milhões de mulheres.
• Promulgação, em 2006, da Lei Maria da Penha que, até 2015,
possibilitou que mais de 300 mil vidas de mulheres fossem salvas e 100 mil
mandados de prisão fossem expedidos.
• Criação, em 2009, do
Programa Minha Casa, Minha Vida, cujo lançamento seguiu a mesma lógica do Bolsa
Família, ou seja, as chaves da casa própria seriam entregues nas mãos das
mulheres, tendo a preferência na assinatura da escritura e permanecendo o imóvel
com a mulher em caso de separação.
• Criação, em 2011, da Rede Cegonha, que passou a oferecer
atendimento e parto humanizado em todo o Brasil.
• Criação em 2014, da Casa da Mulher Brasileira, com o objetivo de
reunir os serviços necessários à interrupção da violência, com atendimento
humanizado, inclusive com alojamento temporário e atenção psicossocial. E
ainda, o atendimento especializado também para mulheres brasileiras que vivem
no exterior, chegou a 13 países.
• Promulgação em 2015, da Lei do Feminicídio, que transformou o
homicídio contra a mulher em crime hediondo.
• Promulgação em 2015, da Lei das Domésticas, que assegura os
direitos trabalhistas para milhões de mulheres trabalhadoras em lares de
famílias, em sua maioria, negras e pobres.
• Construção de 8.664 creches finalizadas ou com recursos
garantidos. A medida permitiu que milhões de mulheres pudessem se qualificar e
entrar no mercado de trabalho.
• Documentação da trabalhadora rural, linhas de crédito PRONAF
Mulher e o Programa de Organização produtiva de mulheres rurais. Com isso, as
mulheres do campo passaram a ser melhor assistidas.
• Crescimento do número de mulheres matriculadas no ensino
superior. Em 2002 saltou de 2 milhões para 3,7 milhões, em grande parte
apoiadas pelo ProUni e Fies. Muitas delas foram as primeiras pessoas da
família a ter um diploma universitário.
Conhecedoras, portanto, do legado construído nos governos
progressistas passados, interrompido pelo golpe jurídico-parlamentar-midiático
que arrancou do poder a primeira mulher eleita pelo voto popular para a
presidência da república do Brasil, depositamos nossas esperanças em dias
melhores e na construção coletiva de políticas públicas para as mulheres e
minorias. Por fim, se você pensa em abster-se do voto nessa eleição de 2022,
porque não se alinha com os projetos em disputa, saiba que corremos o grande
risco de que a alta abstenção contribua para fortalecer o projeto do fascismo
que deseja se perpetuar no poder, e, como nós, do Fórum de Mulheres Espíritas
do IFEHP, comungamos com a ideia de que votar em candidato ou candidata da 3ª
via não nos levará a nada e que o cenário eleitoral está claro e não vai mudar,
nos manifestamos pelo voto útil de bom senso na candidatura Lula/Alckmin13,
para vitória no primeiro turno, sob pena de aprofundarmos o retrocesso em
nosso processo civilizatório.
Seu voto fará toda a diferença!
Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP - Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires
No último dia 27/07 o IFEHP publicou edital para selecionar artigos para o livro coletivo dos seus membros, cujo título provisório é "Espiritismo Dialético e temas diversos".
Quem pode participar: membros do IFEHP e
do Fórum de Mulheres Espíritas, tendo como referência a data da publicação do
Edital, que é 27/07. Os novos membros que ingressarem no IFEHP e no Fórum de
Mulheres após essa data poderão participar na próxima oportunidade de um novo
edital; o que não impede que unam-se a nós, desde já, nas ações do IFEHP,
elaborando textos que poderão, após análise do grupo gestor do IFEHP, ser
publicados no nosso Blog.
Artigo escrito por Jerri Almeida, escritor e livre-pensador gaúcho, publicado originalmente na página "Jerri Almeida Café com Filosofia Espírita", e gentilmente cedido pelo autor.
"O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral; é um campo imenso que não pode ser percorrido em algumas horas." [1] Allan Kardec
Ao apresentar, em 1857, a primeira edição de O Livro dos Espíritos, e ao longo do século XIX, o conjunto de sua obra, Allan Kardec desvelou um novo paradigma conceitual e filosófico para compreendermos um pouco melhor, a complexa dimensão do Ser.
O inquietante problema do futuro do Ser, com seus possíveis castigos e punições eternas, ou com sua consagração ao eterno ócio, nada criativo, serviu para atemorizar ou tornar cético os indivíduos: “Outra razão que amarra às coisas terrenas até mesmo as pessoas que acreditam firmemente na vida futura, liga-se à impressão que conservam de ensinamentos recebidos na infância. O quadro apresentado pela religião, a esse respeito, temos de convir que não é muito sedutor nem consolador.” [2]
O espiritismo representou uma verdadeira ruptura epistemológica tanto em relação aos mitos ancestrais das culturas agrárias, como com o discurso culpabilizador das teologias do medo. Kardec tem a coragem do investigador e a competência do pedagogo para examinar comparativamente os ensinos de alguns sistemas teológicos, com o espiritismo nascente.
Homem aberto ao diálogo, Kardec, por vezes, lembrou que: “As ideias falsas, postas em discussão mostram seu lado fraco e se apagam ante o poder da lógica.” [3] Assinala, ainda, que o critério de análise para a aceitação de um conhecimento, dito espírita, está no controle do ensino universal dos espíritos.
Na prática, significa que nenhuma verdade aparece isoladamente. A análise do conteúdo e significado das manifestações mediúnicas, por exemplo, foram obtidas por ele através de diferentes médiuns em diferentes localidades. Tais manifestações, antes de serem aceitas como verdadeiras, eram submetidas a uma análise comparativa para que se evidenciasse ou não, o consenso e o caráter de universalidade do ensino. Kardec, utilizando-se de diferentes médiuns, propunha-lhes temas pertinentes a certos problemas filosóficos, científicos e morais, com o objetivo de colher esclarecimentos ou ensinamentos compatíveis com a natureza dos assuntos investigados. Por isso, sua ênfase na “observação” e “dedução dos fatos”, submetidos ao critério da “concordância” ou da “universalidade do ensino”, para assim serem aceitos.
Há, naturalmente, uma busca incessante de conhecimentos e reflexões, iniciadas em O Livro dos Espíritos e que, evidentemente, não para com ele, nem mesmo o esgota em todo o seu potencial doutrinário. Isso oferece, ao conjunto da obra kardequiana, uma importante organicidade e nos convida ao estudo integrado de seus textos, de forma a evitarmos a fragmentação da teoria.
O espiritismo retifica todas as ideias equivocadas, construídas ao longo da história humana, sobre o futuro da alma, sobre o céu, o inferno, as penas e as recompensas; Demonstra, tanto pelas comunicações mediúnicas, balizadas pelo método da concordância universal, como pelo viés da razão e da lógica, a impossibilidade das penas eternas e dos demônios, numa palavra: “descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme à justiça de Deus”. [4] Abre um novo campo à educação, numa perspectiva de pensarmos o presente e o futuro com menos temor, com mais lucidez diante de nossas possibilidades de ação e aprendizado.
Dissipando velhas ideias, Kardec asseverou em 1865: “...uma ciência nova, que dá tais resultados em menos de dez anos, não é acusada de nulidade, porque toca em todas as questões vitais da humanidade e traz aos conhecimentos humanos um contingente que não é para desdenhar.” [5] O espiritismo prende-se, como afirmou [6] o insigne pedagogo francês, a todos os ramos da filosofia, da metafísica, da psicologia, da moral e, poderemos acrescentar também, da educação.
A rigor, compreendemos que a doutrina espírita, por sua natureza dinâmica, racional e ética, é capaz de formular uma educação profunda, capaz de estimular uma nova concepção do homem e da vida, posto que depositária de uma ordem de ideias essencialmente humanista. Portanto, não seria demais afirmarmos que Kardec, na sua condição de pedagogo, imprimiu no espiritismo uma essência pedagógica com dimensões muito amplas.
Discutiu, por vezes, o impacto dessas novas ideias na formação infantil.
"Ele (o espiritismo) já prova sua eficácia pela maneira mais racional pela qual são educadas as crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de modo bem diverso; sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade, forçosamente deverá projetar luz sobre a grave questão da educação moral, fonte primeira da moralização das massas." [7]
A teoria espírita lançando significativos esclarecimentos sobre o mistério da existência agrega, inevitavelmente, novos elementos na estrutura familiar, especialmente na educação de pais e filhos. A dimensão educacional do espiritismo, segundo Kardec, teria efeitos na composição de novos elementos culturais através das gerações. Não se trata apenas de limitarmos os efeitos dessa filosofia ao aspecto moral, mas de ampliarmos tais efeitos para o universo da própria cultura.
Desde a infância, o ser começa a absorver a herança cultural que assegura sua formação e orientação ao longo do tempo. Quando essa herança é limitada ao pensamento materialista ou aos elementos mítico-religiosos, ela fecha o sujeito para voos mais amplos de compreensão e inserção mais plena na vida. Nesse sentido, o espiritismo, em sua perspectiva educacional, abre a cultura para os aspectos mais profundos da identidade espiritual e para o aperfeiçoamento integral do Ser.
Assim como, no dizer do sociólogo francês Edgar Morin, o patrimônio hereditário do indivíduo está inscrito no código genético, o patrimônio cultural está inscrito, primeiro, na memória (individual e coletiva) e, depois, na cultura formal (leis, literatura, artes, religião, educação, etc). Segundo Morin, a cultura é fechada e, ao mesmo tempo, aberta, pois enquanto o dogmatismo do pensamento enclausura o conhecimento, o dinamismo cultural o abre para novas possibilidades.
Nesse sentido, percebemos uma valiosa contribuição do espiritismo no campo educacional do espírito humano, abrindo a cultura para novas possibilidades de ver o mundo num contínuo dinamismo conceitual. Dessa ação pedagógica profunda (não formal), emergem novos significados sobre as leis da natureza, sobre a felicidade humana, sobre a morte, sobre o complexo familiar, sobre os conflitos e sofrimentos humanos, individual e coletivo.
Dessa forma, a essência pedagógica do espiritismo, sem nenhuma pretensão proselitista ou salvacionista, estabelece uma ação educativa no momento em que nos desafia para uma mudança de percepção sobre nós mesmos, nos oferecendo horizontes mais amplos de compreensão sobre a admirável estrutura das leis naturais e morais da vida, garantidoras de felicidade e paz.
NOTAS
[1] KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo. Segundo diálogo.
[2] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, Primeira parte, Cap. II, item 6.
[3] KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1865, p. 295
[4] KARDEC, Allan. O Que ensina o Espiritismo. In. Revista Espírita, agosto de 1865, item 3º.
[5] Idem. p. 224. Edicel.
[6] KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo. Segundo Diálogo.
[7] KARDEC, Allan. Primeiras Lições de Moral na Infância. In. Revista Espírita, fevereiro de 1864.
O FÓRUM DE MULHERES ESPÍRITAS DO
IFEHP REPUDIA A DECISÃO DE DUAS MAGISTRADAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA - SC
QUE IMPEDIU UMA CRIANÇA DE 11 ANOS DE REALIZAR ABORTO. GESTAÇÃO FRUTO DE
ESTUPRO.
Pergunta de Allan Kardec aos espíritos.
Questão 359 do “O Livro dos Espíritos”. No caso em que a vida da mãe estaria em
perigo pelo nascimento da criança, há crime em sacrificar a criança para salvar
a mãe. Resposta dos espíritos. É preferível sacrificar o ser que não existe
a sacrificar o que existe.
O Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP - Instituto de
Filosofia Espírita Herculano Pires, lançou em março do corrente ano o
“Movimento de Sensibilização sobre os abusos sexuais nos meios espiritualistas”
com o objetivo de nos somarmos ao coro de vozes de indignação e repulsa às
diversas formas de violência e abuso sexual, contra crianças, adolescentes,
mulheres. Nosso papel é pautar as temáticas que são invisibilizadas pela
sociedade, inclusive nos meios espíritas e dialogar sobre as diversas
possibilidades de ação no combate aos crimes desta natureza.
Desta forma, o Fórum de Mulheres vem a público repudiar a
nefasta atitude da juíza Joana Ribeiro Zimmer e da promotora de justiça Mirela
Dutra Alberton por violarem os direitos fundamentais de uma criança de 11 anos vítima
de violência sexual – gravidez decorrente de estupro. E essa criança não foi a
primeira nem será a última se continuarmos fechando os olhos para essas
aberrações. O crime aqui configurado é o do ESTUPRO de vulnerável, menor
incapaz. A criança de 11 anos não está em julgamento, aqui.
Perguntas da juíza Zimmer em audiência com a criança de 11
anos grávida por estupro. “Você acha que o pai do bebê concordaria com a
entrega para adoção?” “Qual a
expectativa que você tem em relação ao bebê? Você quer ver ele nascer?” Essas duas perguntas foram feitas por uma
juíza a uma criança de 11 anos. Essa
criança foi retirada de sua residência e colocada em uma instituição (detida no
caso) para prosseguir com a gestação e “proteger o feto”. Quem protege quem????
É cruel demais.
CRIANÇA NÃO É MÃE! ESTUPRADOR NÃO É PAI!
A circunstância a que essa menina foi submetida corresponde à
revitimização, que intensifica muitos problemas e causa outros. O abuso sexual, por si só, já produz
problemas de autoestima, sentimento de culpa, autoimagem distorcida,
dificuldades na sexualidade. A formação
e o desenvolvimento físico e emocional desta vítima está sendo desconsiderada,
podendo gerar consequências para toda a sua vida. Infelizmente, a criança vítima
de abuso foi criminalizada e, em nome da vida do feto, foi desconsiderada a
vida de alguém que já nasceu. Essa criança pode se tornar emocionalmente morta
em vida, em função do sofrimento a que está sendo exposta.
Em regra, no Brasil o aborto é crime, entretanto, existem
situações em que é possível a interrupção da gravidez.
Artigo 128, inciso II do Código Penal –
“Não se pune o aborto praticado por médico, II - se a
gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Ressalte-se que a criança foi “inquirida” se desejaria
continuar com a gravidez e negou.
Essa criança de 11 anos, ao invés de ser acolhida e amparada
pela justiça, sofreu nova violência por quem a deveria proteger: desde o
momento em que foi afastada do convívio familiar por decisão da justiça
(mantida em um abrigo) e agravada com a decisão da juíza e da promotora quando
impediram o aborto. O sistema de justiça brasileiro comete crime ao negar a uma
menina de 11 anos o direito à sua própria vida. Ao se manifestarem a favor do
feto de 22 semanas, a juíza e a promotora não o fazem em respeito à vida, mas
em nome de preceitos religiosos e de falso moralismo que só perpetuam a
violência e a tortura em um Estado que, constitucionalmente, é laico.
Entenda os direitos que a juíza Zimmer viola ao impedir o
aborto legal de uma criança de 11 anos, gestante, vítima de estupro:
üA lei brasileira não define até que
idade gestacional o direito ao aborto deve ser respeitado, em especial quando a
vida da gestante está em risco (estamos falando de uma criança de 11 anos).
üA OMS atesta que um parto apresenta
muito mais riscos para uma criança gestante do que o aborto
üO tratamento cruel a que essa criança
está sendo submetida quando foi retirada do convívio familiar e ser colocada em
um abrigo, por decisão judicial, como justificativa de proteção ao feto. Na
audiência com a juíza, a criança de 11 anos foi coagida a manter a gestação.
üÉ um caso grave de violação dos
direitos por parte do judiciário brasileiro que contraria a legislação sobre o
aborto.
Nós, do Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP entendemos que o
aborto é um problema social, de saúde pública. Precisamos dialogar e analisar o
impacto da atual legislação brasileira e estrangeira sobre o aborto na vida e
na saúde das mulheres, pois as estatísticas somente confirmam o quanto ainda é
negado aos mais vulneráveis, em especial às mulheres, o direito de realizarem
um aborto seguro, nas hipóteses em que é permitido por lei. O enfoque gira em
torno da dificuldade das mulheres em fazê-lo, devido à falta de informação, ao
preconceito, ao despreparo dos profissionais da saúde dentre outros inúmeros
fatores que demonstram a ineficácia do Estado em garantir o acesso à saúde
pelas mulheres.
O direito ao aborto em caso de violência sexual de vulnerável
necessita ser respeitado juntamente com a valorização da vítima e a humanização
do atendimento a mesma.
No caso presente desta Nota de Repúdio nos solidarizamos com
essa família violentada pelo Estado, e pedimos que a verdadeira justiça seja
feita para essa criança, estuprada e grávida. Que o direito ao aborto legal,
previsto em lei, seja respeitado.
Uma criança de 11 anos não tem maturidade física e nem
emocional para gestar um ser.
Brasil, 22 de junho de 2022.
Fórum de Mulheres Espíritas do Instituto de Filosofia
Espírita Herculano Pires - IFEHP
Autora: Heloísa Canali, membra do Grupo Gestor do IFEHP e do Fórum de Mulheres Espíritas, servidora pública federal na UFPA, pós-graduada em Pedagogia Espírita. O presente artigo deu origem à conferência ministrada pela autora, em virtude do encerramento da I Semana Amélie Boudet, no dia 13 de maio de 2022, evento realizado pelo IFEHP e pelo Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP.
Quero começar essa fala trazendo
Kardec para nos auxiliar a pensar sobre a existência de uma espiritualidade
feminina, por meio de um texto presente na RE, Ano IX de janeiro de 1866
intitulado: As Mulheres têm alma?
Essa interrogação se constitui numa questão
religiosa. Porém, mais que a forma da pergunta, Kardec a alicerça sob um
substrato social e humano, pois o que ele argumenta como questão de fundo, são
direitos sociais e intelectuais das mulheres. Nem sempre foi certa uma resposta
positiva à essa pergunta que intitula o artigo da RE, pois ao que se sabe foi
posta em deliberação num Concílio. Essa “dúvida”, no entanto, foi aparentemente
dirimida. A dúvida sobre a condição espiritual da mulher, gerou consequências
desastrosas que ainda hoje se mantêm, e trouxe enormes prejuízos morais e
sociais às mulheres a ponto de, em certas culturas, termos sido definidas como “instrumento
de prazer do homem”.
O preconceito sobre a inferioridade e consequente
desumanização das mulheres foi construída por homens, por meio de substratos
filosóficos e posteriormente religiosos. Está presente na fala do filósofo
grego Pitágoras que afirma: “Existe
o princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau que
criou o caos, as trevas e a mulher". Eurípedes considerava a mulher
"o mais temível dos males". Aristóteles em sua obra Política, tece
considerações a respeito dos papeis sociais de gênero ao afirmar que o macho é
mais preparado para direção do que a fêmea; os corpos femininos são frágeis e
débeis, as mulheres, portanto, são inferiores em termos anatômicos,
fisiológicos e éticos. Revela-se, dessa forma, o pensamento predominante da
sociedade grega da época.
No
discurso religioso do Cristianismo, responsável por uma explicação cristã da
desigualdade entre homens e mulheres, observamos São Paulo aconselhar as
mulheres a serem submissas, pois seus discursos indicam subalternidade em
relação aos homens. Santo Agostinho complementa:"A
mulher é uma besta insegura e instável"; São Cristóvão afirmou: "Entre
todos os animais selvagens, não há nenhum mais daninho do que a mulher".
Nas
mais diversas religiões, a mulher sempre foi desconsiderada, aviltada,
espoliada de direitos intrínsecos e naturais. A mulher não pode governar-se por
si mesma, há que ter quem lhe dite o comportamento, obviamente, um homem. Na
China, o conselho do sábio era no sentido de que não se confiasse na mulher. Na
Rússia, era norma de sabedoria popular que, para cada dez mulheres, existe
apenas uma alma.
A
história mostra a mulher discriminada em todas as épocas. A discriminação
contra a mulher é produto do sistema social, sedimentado através dos séculos e
não guarda qualquer relação com disposições da Natureza. É produto do Patriarcalismo
cuja feição machista decorreu da força física atribuída ao corpo masculino,
enquanto o corpo da mulher foi e ainda é considerado mais frágil e débil, muito
embora nos dias atuais nos deparemos com outras realidades sobre os corpos que
merecem amplas e científicas discussões. Todos esses discursos integram um
conjunto mais amplo de poder e biopoder. Discursos que influenciaram os
comportamentos, valores e práticas de homens e mulheres desde tempos
imemoriais.
O
Patriarcado, como estrutura política mais arcaica e permanente da humanidade,
sustenta sua permanência em seu caráter
religioso de raízes cristãs, o qual é assumido pelas crenças e valores da
tradição cristã como algo sagrado. Traz no discurso religioso e suas práticas, imposições
extremamente perversas para as mulheres, pois naturalizavam a inferioridade de seus
corpos acrescido de argumentos
relacionados a honra, a moral e a capacidade intelectual.
Por meio de mitos o Patriarcado vai se
mantendo. Mitos como o da criação do homem e da mulher e do pecado original descritos
em Adão e Eva, presentes também nas narrativas de diferentes povos é um deles.
Eva, despudorada, foi a causa da queda do homem, responsável pela destinação
penosa da humanidade através da necessidade do trabalho como castigo divino, em
sua desobediência à ordem do Senhor. Posteriormente, um contraponto foi acrescido a
essa narrativa, no momento em que a necessidade da Igreja de se atualizar para
conformar seus anseios políticos ao Estado e à cristandade, trazendo para a
cena a figura da Virgem Maria, vulto angélico de expressiva suavidade em sua
maternidade sublime. A Igreja, logo fará da virgem Maria um ser cuja
característica feminina só será confirmada pelo aspecto de mãe sofredora,
sacrificada e “escrava do filho”.
A filosofia do Cristianismo teve uma
nova interpretação através da Doutrina Espírita por Allan Kardec. Aboliram-se
todos os dogmas criados pela Igreja Católica como o da criação do mundo, o qual
passa a ser explicado pela teoria evolucionista, e personagens como Adão e Eva
perdem sua força. A missão materna, através do símbolo de Maria, representava para
o patriarcalismo judaico uma dose de superação, visto que a mulher será então
objeto de culto, entendimento de que, se Eva causara a perda da humanidade,
Maria contribui para salvá-la, e aquela que, considerada nefasta e perigosa,
podia tornar-se objeto de salvação e veneração. No entanto, a Igreja Oficial
logo esvazia esse conceito de toda sua significação. O que poderia
considerar-se mudanças, constitui-se em fixação de um olhar patriarcalista e
machista sobre a condição das mulheres.
Durante
a Idade Média, as mulheres foram confinadas aos seus lares e conventos, ou
perseguidas por práticas de feitiçaria. O século XVIII, alvorecer das ideias
iluministas, sob forte influência do pensamento grego, insistem na
superioridade do homem a partir da dita fraqueza das mulheres, portanto, não
cabe a elas as atividades de mando, nem científicas e filosóficas.
Essa
realidade cultural machista e misógena no mundo moderno é que leva Kardec a
escrever seu artigo “A Mulher tem Alma? Para ele era muito claro uma resposta afirmativa,
então aproveita-se de uma contenda judicial em que se negava diploma acadêmico a
uma mulher, para propugnar direitos iguais às mulheres, que pela inteligência e pelo gênio se
afirmaram, mesmo que consideradas incapazes para ditas atividades em frente ao
poder do patriarcado.Kardec
entende e prevê que a emancipação total da mulher se daria por meios legais e
abrangentes, aspecto que não pode deixar de ser considerado, no entanto, esses
direitos a elas não seriam mais dados por concessão, mas por força de uma legislação justa e equânime no
futuro, vez que a desigualdade de tratamentos não decorria da natureza, mas sim
da imposição pela força física e poder social dos homens sobre as mulheres. Kardec
vai mais além justificando seu ponto de vista considerando o princípio
espírita de que Deus não criou espíritos masculinos e femininos sendo estes
inferiores àqueles. Propugna igualdade dos direitos entre homens e mulheres, consoante
registros na questão 822 em O Livro dos Espíritos: “todo privilégio concedido a
um, ou a outro, é contrário a justiça. A emancipação da mulher caminha com a
civilização, sua subjugação caminha com a barbárie.”
Diante disso, podemos constatar que,
em nossa cultura religiosa judaico-cristã ocidental, encetamos grandes lutas;
vivemos sucessão de episódios dolorosos e difíceis porque à mulher não foi
permitido administrar sua própria vida. As mulheres das gerações passadas não
tiveram muitas escolhas e muito menos escolhas fáceis – e hoje, as temos?
Precisaram, e muitas de nós ainda precisam descobrir suas reais necessidades e
potencial, vencer medos e preconceitos, derrubar mitos e a ter uma audácia necessária
para romper com a realidade que oprime e mata mulheres.
Já que temos alma, ou seja, somos
espíritos, e como reencarnados somos um ser bio-psico-social-espiritual
reencarnante, temos uma espiritualidade a ser desenvolvida à medida em que
vamos tomando consciência de nosso lugar dentro de nós mesmas e diante do mundo
e do universo. Mas, o que pensamos que seja espiritualidade? A espiritualidade pode ser definida como uma
"propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos
que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior
que si próprio". A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência
religiosa. (Wikipédia GUIMARÃES, Hélio Penna. «O impacto da espiritualidade na
saúde física» (PDF). Rev.
Psiq. Clín. ), mas não confunde-se com práticas religiosas, embora estas sejam meios para
exercer a espiritualidade.
Trazemos o que Dora Incontri nos diz sobre o que é
Espiritualidade, em seu livro A Educação Segundo o Espiritismo: “Espiritualidade
é a conexão do ser humano consigo mesmo, com o transcendente, com Deus, com o
espiritual. Pode se manifestar em qualquer forma religiosa ou não aparecer
vestida de uma religião específica. Mas é a espiritualidade que dá suporte nas
horas difíceis, pois ela nos permite a prece, a elevação do pensamento acima
das circunstâncias terrenas. Ela empresta resiliência e confere sentido à
existência. Qualquer forma de espiritualidade experimentada de forma saudável,
sem fanatismo ou intolerância, pode trazer benefícios ao indivíduo e é muito
importante no ato de educar”. O Espiritismo é uma forma de espiritualidade que
procura racionalizar a fé e elevar o sentimento religioso, despojando-o de
rituais e simbolismos.”
Segundo
nossa construção cultural e religiosa, desenvolver e/ou praticar
espiritualidade está relacionada às Religiões e com tudo o que elas
representam: domínio, poder, hierarquia,
e a pretensão de serem donas de verdades absolutas e fechadas. Todavia, se quisermos desenvolver nossa espiritualidade, precisamos de analisar
se as religiões com seus dogmas, rituais e tradições nos oferecem caminho seguro para vivenciarmos experiências que nos liguem
verdadeiramente com nossa essência diante da presença de
uma autoridade
interna que podemos chamar de Intuição, Consciência, Deus
Interior, na qual a prática dessa espiritualidade está motivada pelo desejo de
nos reunir, religar, conectar com o ser superior.
Nos
contextos religiosos hegemônicos, conservadores, castradores de liberdades as
religiões assim constituídas deturparam as histórias das mulheres. Se demonstrassem
inteligência, espírito livre, se curavam a si e aos outros, se fossem
guerreiras, se tivessem desejo de amar e serem amadas eram dadas como
prostitutas, loucas, profanas. Somente
às mulheres castas, puras, maternais, conselheiras, mães e que fossem
exemplos de abnegação e fé era concedido o exercício de espiritualidade. A
mediunidade lhes foi negada, apenas as figuras masculinas possuíam “poderes”
espirituais. Esses estereótipos ainda hoje repercutem nas mulheres
contemporâneas que sofrem culpa e medo originadas pela repetição naturalizada
de conceitos e preconceitos da sociedade patriarcal e machista presente nas
Religiões.
Muitas
mulheres deram testemunhos de sua espiritualidade em alto grau , mas não sem
sofrerem as injustiças e vilipêndios que alcançam o seu direito de viver.
Segundo historiadores, Maria Madalena, a prostituta, endemoniada (a mulher dos
sete demônios), era helenizada, culta, falava vários idiomas, possuía riqueza,
espírito livre e não se deixou prender pelo casamento. Seguiu Jesus.
Joana
D’Arc, considerada uma heroína da França pelos seus feitos
durante a Guerra dos Cem Anos. Joana dizia receber visões divinas do arcanjoMiguel, de Santa
Margarida e
da Santa
Catarina, que a
instruíram a ajudar as forças de Carlos
VII e livrar
a França do domínio da Inglaterra. Foi capturada em
uma batalha e entregue aos ingleses que a entregaram à Sta. Inquisição. Foi
condenada à fogueira sob acusações de cunho religioso. Curioso observar de que
forma se exterioriza a espiritualidade dessa jovem mulher, que negando sua
condição feminina, por meio da mediunidade entrega-se a defender sua pátria em
seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
D. Maria Padilla – espanhola
(1334-1361) rainha de Castella, que mesmo em narrativas diversas, descrevem-na
como inteligente, com capacidade de raciocínio,
médium, dotada de muita fé aliada a doçura na alma, auxiliou o rei Pedro, o Cruel a governar com
discernimento e clareza. Fundou a Ordem das Clarissas de Sta. Clara de Assis
para acolher mulheres, que mesmo casadas, poderiam se refugiar de seus maridos,
pais e irmãos que as acusavam de bruxaria. Foi acusada pelo cunhado de
assassina e prostituta. Repete-se aí o
estereótipo dado à Maria de Madalena. Há narrativas de que esse Espirito
feminino veio, por meio da mediunidade de uma negra escravizada, aqui no
Brasil, comunicar-se e contar sua história, fazendo-se presente fortemente nos
terreiros de Candomblé e Umbanda. Coordena uma organização de espíritos
femininos, fundada no plano espiritual, em sua maioria constituída de mães,
avós, tias, bisavós de seus protegidos ou de médiuns, formando uma grande
ligação com a ancestralidade. São conhecidas como Pombas Giras da linha de Exu.
Pomba Gira, portanto, é uma grande organização feminina que atua principalmente
no plano material contra ataques de toda
ordem a outras mulheres e desejam que essas mulheres sejam autossuficientes. Não
trabalham para desviar, desagregar ou induzir as pessoas ao erro, ao contrário,
são leais ao processo de aprendizado e evolução da humanidade em todos os
sentidos. A esses espíritos femininos são atribuídos a pecha de devassas,
mundanas, debochadas, donas de dotes de sedução que as fazem menores diante do conceito padrão machista de
mulheres “recatadas e do lar”. Diz-se ainda
que, ao se deturpar o trabalho espiritual da Organização das Pombas
Giras fere-se a ancestralidade e suas lutas enquanto encarnadas, castra-se o
lado feminino das religiões onde as mulheres sempre são submissas ou submetidas
a trabalhos menores de servir aos interesses daqueles que mandam.
Destarte a inferiorização e
subalternidade de que as mulheres são vítimas, do pensamento retrógrado que as
afeta, inclusive com relação à mediunidade e à espiritualidade, há grandes
vultos femininos no Espiritismo que nos inspiram a caminhar. E nesse momento
prestamos nossas homenagens e gratidão pelos exemplos de destemor e dedicação
às causas justas e necessárias ao progresso que as mulheres espíritas que nos
antecederam exemplificaram , vivendo suas espiritualidades, incentivando-nos a construir
novos horizontes para as mudanças necessárias e urgentes no mundo feminino.
IRMÃS FOX - que por meio da
mediunidade popularizam a comunicação dos espíritos redundando nas pesquisas
sobre os fenômenos espirituais até chegar ao Prof. Rivail. Sofreram chacotas,
injustiças, assédios.
SRA. PLAINEMAISON – antecede
a codificação da Doutrina. Organizava sessões espíritas em sua casa, onde
Kardec faz suas primeiras observações.
AMÉLIE BOUDET , BERTHE FROPO E ANNA BLACKWELL - Madame Kardec, imprescindível
colaboradora no trabalho de construção do Espiritismo ao lado do marido. Foi
invisibilizada pelo Movimento Espírita Brasileiro
que a considerou num papel coadjuvante constituindo-se apenas em esposa de Kardec. Após o desencarne de Kardec essas
três mulheres intelectuais uniram-se em defesa do legado Kardeciano contra as
infiltrações de outras teorias espiritualistas como a Teosofia e o
Roustanguismo sob o pretexto de atualizar o Espiritismo. Denunciaram publicamente suposta corrupção praticada por “amigos” espíritas de
Kardec que o sucederam. Fizeram suas refutações e depoimentos por meio de
publicações em brochuras, jornais e revistas espíritas. Amélie foi fundadora da
Sociedade Anônima que deveria divulgar as obras espíritas de Kardec e
protestava nas reuniões da Sociedade, mas sua voz não era ouvida; foi desrespeitada, sofreu preconceito e assédio moral
por parte dos próprios amigos de Allan Kardec, que acabou adoecendo o que
levou-a a se ausentar das reuniões da Sociedade. Foi ignorada a tal ponto que
Leymarie não lhe prestava nenhuma conta. Sofreu maledicência, quando Leymarie
(Secretário-gerente da Revista Espírita e membro administrador da Sociedade
Anônima da Caixa Geral e Central do Espritismo) respondia à solicitação de
baixar o preço dos livros, que não podia fazê-lo pois Amélie recebia uma pensão
da Sociedade. No entanto, ela se impunha duras privações que comprometiam sua
saúde já debilitada, do que ser vista como avara. Seu objetivo era “difundir a
instrução moral e intelectual entre os adeptos pobres do Espiritismo e ver crescer
a obra de Kardec”.
Berthe Fropo, tornou-se conselheira e amiga íntima de Amélie,
foi vice-presidente de uma instituição espírita, a União Espírita Francesa, que
muito ajudou a denunciar e combater desvios doutrinários no Espiritismo do pós Kardec.
Anna Blackwell a primeira tradutora mulher das obras da Doutrina, além de ter
sido hábil escritora e pesquisadora, revelando e publicando novos dados
biográficos de Allan Kardec.
ERMANCE DUFAUX – principal médium
das sessões domésticas de Kardec.
IRMÃS BAUDIN – A família Baudin é importante para o
movimento espírita pois as Srtas.Baudin foram as duas primeiras médiuns utilizadas
por Allan Kardec para a preparação da 1ª Edição de O Livro dos Espíritos.
AMALIA
DOMINGO SOLER - (1835-1909) foi uma escritora e
grande expoente do movimento espírita espanhol, pela sua atuação como divulgadora e médiumpsicógrafa. Seus
escritos destacam-se pelo estilo poético e leve.
É também caracterizada pelas inúmeras dificuldades que suportou
com força e coragem. Conhece o Espiritismo por meio do seu médico que lhe
ofereceu um jornal espírita. Ela se integra ao movimento, frequenta às reuniões
e se torna espírita. Escreve um jornal espírita e seu primeiro artigo, A Ideia
de Deus foi muito combatido pela igreja católica. Escreveu para vários
periódicos deixando um grande legado literário para o Espiritismo Espanhol e
mundial. Coordenou como vice-presidente o I Congresso Espírita Internacional em
1888, Barcelona, pela Federação Espírita Espanhola. No Brasil é vista somente
como poetisa.
IVONE DO AMARAL PEREIRA – com sua
mediunidade, simplicidade e liberdade pode exercer sua faculdade para curar os
obsessos e como médium receitista. Além do mais, o que marca em Ivone em atuação mediúnica foi a sua independência, tanto
que questionava com fundamento os
entraves burocráticos que algumas casas espíritas impõem aos seus
trabalhadores.
AUTA DE SOUZA – poetisa da
2ª geração romântica. Escrevia poemas românticos com influência simbolista e de alto valor
estético. A maior poetisa mística do Brasil (Luis da Câmara Cascudo). Continua
a produzir arte pós desencarnação por meio da mediunidade.
ZILDA GAMA – Médium
antecessora de Chico no cenário do Espiritismo.
ANÁLIA EMÍLIA FRANCO
(1856- 1919) – Foi a educadora das massas, das camadas mais simples da
população, das mães desamparadas. Atendeu a mais de 1000 estudantes dos dois
sexos nas Escolas Maternais, Asilos, Creches, Liceus e Escolas Normais cujo
método de ensino preconizava a instrução aliada à formação moral da juventude
num conceito de educação integral. Alfabetizava e profissionalizava mulheres
para que saíssem da pobreza ou, por opção, desgarrar-se da tutela do marido. Fundou
mais de 100 escolas destinadas a beneficiar e educar crianças e senhoras de
todas as classes e seitas diversas, por isso limitavam-se ao ensino das
verdades fundamentais como a existência de Deus, a imortalidade da alma e ao
ensino da mais pura moral sem prejudicar as crenças das famílias a que
pertenciam as crianças. Expulsa de uma cidade do interior de S. Paulo porque
insistia em abrigar e ensinar crianças brancas e negras juntas, algo
considerado uma promiscuidade escandalosa à época. Mendigou para crianças
filhas de escravos. Fundou, em 24 cidades do interior de S. Paulo 71 escolas, 2
albergues, 2 colônias regeneradoras para mulheres, 25 asilos para órfãos, 1
banda de música feminina, 1 orquestra e 1 grupo dramático. Grande desconhecida!
AMÉLIA RODRIGUES - (1861-1926)-
Educadora, teatróloga e escritora. Dedicou-se ao jornalismo como
colaboradora de publicações religiosas como "O Mensageiro da Fé",
"A Paladina" e "A Voz". Escreveu algumas peças teatrais,
entre as quais "Fausta" e "A Natividade". É autora dos
poemas "Religiosa Clarisse" e "Bem me queres". Produziu
ainda obras didáticas, literatura infantil e romances. Continuou seu trabalho
após desencarnar por meio da mediunidade.
BENEDITA FERNANDES –
(1883-1947) Mulher negra. Obsediada, tida como louca, foi curada por meio do
Espiritismo. Relata que ouviu uma voz que lhe disse: “Benedita, se prometeres
consagrar-te inteiramente aos enfermos e pobres, sairás curada daqui”. E assim
ela o fez. Após curada, criou o Lar Benedita Fernandes de Araçatuba e o
Sanatório Benedita Fernandes de Araçatuba. Era médium, passista e
evangelizadora de crianças. Pioneira do Movimento de Unificação dos Espíritas quando
fundou em 1940 a União Espírita Regional Noroeste sendo eleita sua primeira
presidente.
ADELAIDE AUGUSTA CÂMARA –
AURA CELESTE – (1874- 1944) Educadora. Trabalhou junto ao espirito médico Dr.
Joaquim Murtinho, que por seu intermédio atuou na cura de muitos. Fazia
conferências e publicou vários livros: Vozes D’Alma, Aspectos da Alma, Palavras
Espíritas, Rumo a Verdade e Luz do Alto. Criou o Asilo Espírita João
Evangelista( RJ) em 1927 para crianças e velhice desamparada. Mãe dos Órfaos.
SCHEILA (Espírito) –
Baronesa de Chantal, Ao enviuvar dedicou-se aos filhos e a cuidar de
necessitados. Fundou a Congregação de Visitação de Maria e 87 conventos. Como
Espírito desencarnado trabalhou com o médium de materialização em curas
Peixotinho. Se apresenta como uma enfermeira alemã que trabalhou na 2ª guerra
mundial.
MEIMEI - Irma
de Castro Rocha, conhecida como Meimei por meio de psicografias, foi um
espírito que se manifestava mediante as cartas do líder espírita Chico Xavier.
Ela deixou grandes lições de benevolência com o próximo e sua história foi
contada em diversas obras mediúnicas. São elas: “Pai Nosso”, “Amizade”,
“Palavras do Coração”, “Cartilha do Bem”, “Evangelho em Casa”, “Deus Aguarda” e
“Mãe”.
DORA INCONTRI - Uma
mulher contemporânea, estudiosa, escritora em prosa e versos de alto grau de
espiritualidade no que produz e no que exemplifica. Exemplo de destemor,
dedicação e compromisso, de espírito refinado, que ao propor novos
entendimentos, novas frentes conceituais, novas práticas, desconstrução de
ideias equivocadas nos ajuda a olhar pra dentro de nós e para o mundo, e o faz
com grande sensibilidade e respeito às individualidades. Sempre sofreu e sofre
ataques machistas, mas seu lugar de mulher no mundo e no Espiritismo é
defendido com coragem e muita esperança. Obrigada Dora.
Mulheres inspiram outras
mulheres com exemplos de coragem e muitas vezes com delicadeza feminina.
Todavia essa delicadeza não pode ser confundida com submissão e aceitação do que
está posto pelas estruturas patriarcal e machista da sociedade a qual
pertencemos. Elas precisam transgredir o que está posto como norma social e que,
eventualmente, as demandas podem passar para as legislações, mas que, quase
sempre não refletem justiça e proteção integral, quando não são implementadas
pelos aparelhos do Estado. A mulher precisa ser vista com direitos ao respeito,
ao trabalho, a vida digna, à educação, amparo para criar seus filhos, a exercer
sua sexualidade e sua religiosidade como lhe aprouver.
Pelos contextos vividos,
percebemos que qualquer projeto civilizatório em que a visão do mundo está
definida pela superioridade de um dos gêneros o qual detém o poder e por meio dele subjuga o
outro, como o é no regime de patriarcado, passa a ser a fundação de todas as
desigualdades e expropriação de valor que constroem o edifício de todos os
poderes: econômico, político, intelectual, artístico, etc.
Finalmente, podemos
dizer que a luta incessante das mulheres pelo reconhecimento de sua condição de
sujeitos e protagonistas de suas próprias vidas, passa obrigatoriamente pelo
Feminismo visceralmente imbricado na Religião. O Feminismo pode ser entendido
como uma teoria em movimento, que apreende tudo aquilo que diz respeito à
emancipação das mulheres, que procura explicar a situação das mulheres e
elabora permanentemente a crítica e a denúncia da injustiça da sociedade
patriarcal, capitalista, racista; e como movimento, luta pela transformação
social, assim como também é uma atitude pessoal diante da vida.
Buscando, ainda,
responder a pergunta que nos serve de introdução ao tema ora refletido,
diríamos que, o que nos é negado não seja propriamente a espiritualidade, mas
as suas expressões no mundo externo. As expressões dogmatizadas, ritualizadas,
cheias de fórmulas e normas a serem seguidas, padronizadas,
institucionalizadas, para que todas e todos se incluam, são aquelas
consideradas válidas e legitimadas pela sociedade perante à divindade, seja
qual for a divindade a qual nos vinculamos. Observamos ateus se curvarem diante
da Natureza, pois reconhecem sua força e procuram se conectar com ela dos mais
variados meios, desde que esses lhes tragam paz e bem-estar. Trazemos em nós a
marca da divindade desde a nossa idealização por Deus como inteligência suprema
do universo, desde que em nossos primórdios nesse planeta enterrávamos uns aos
outros, após a morte do corpo, em sentido vertical com os braços voltados para
o alto, como que em busca da conexão com o transcendente. Exercitamos
espiritualidade quando adotamos uma Religião ou qualquer outra doutrina
espiritualista, e até as materialistas, para orientar nossa caminhada, pois o
anseio de transcender a nós mesmos e àquilo que ainda desconhecemos, nos
constitui desde sempre. Para reencarnacionistas espíritas, esse exercício de
espiritualidade toma uma dimensão ampliada, porque esses devem ter consciência
de sua responsabilidade individual e coletiva no progresso da humanidade, a
qual só se fará com atuação ativa de homens e mulheres sobre as questões que
ferem as individualidades e as liberdades, cenário que ainda nos oprime a
exigir posicionamentos e atitudes que semeiem para o estabelecimento de um
futuro mundo de justiça, amor e caridade.
REFERÊNCIAS:
ÁLVARES, Maria Luiza
Miranda. Saias, laços e ligas. Um estudo sobre as formas de participação
política e partidária das mulheres paraenses. Belém/Pará: Paka Tatu, 2020.
CAMPANARO, Priscila Kikuchi. Branquitude e religião:
uma análise autoetnográfica sobre ser uma mulher branca no candomblé. Revista
Mandrágora, S.Paulo. v. 27, n. 2, 2021. P. 91-113. Disponível em https://www.metodista.br/revistas/ims/index.php/MA/article/view/1036457.
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