sábado, 29 de outubro de 2022

Pesquisa do CEBRAP mostra que quase dois terços dos espíritas votarão em Lula

 



Na pesquisa apresentada pelo CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (https://cebrap.org.br/), em outubro/22, que criou um agregador de pesquisas por religião; constata-se que a vantagem de Lula é maior entre os espíritas - 67% das intenções de votos, o que pode nos levar a conclusão que os espíritas, em sua maioria, compreendem que o espiritismo é progressivo e progressista como apontou Allan Kardec nas obras espíritas.

Nós, do Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP, compreendemos que o espiritismo não é uma religião no sentido do termo que conhecemos – dogmática, ritualística, com culto às imagens, representações e hierarquias sacerdotais. O espiritismo é uma religião no campo da moralidade cristã. O Deus espírita não é antropomórfico.

Ainda que nos deparemos com espíritas do campo institucional defendendo propostas e atitudes indefensáveis do atual governo, publicamente conhecidas, e que não se alinham, em nenhuma letra sequer, com as proposituras e princípios do Espiritismo; a grande maioria dos espíritas, como aponta o resultado da pesquisa CEBRAP, está alinhada com a justiça social, a liberdade, a solidariedade e a dignidade humana.

O espiritismo não se alinha com a necropolítica, com a adoração contemplativa de Deus. A partir do conhecimento do bem e do mal, devemos não apenas não fazer o mal, mas, fazer o bem.

O espiritismo não se alinha com a degradação do meio ambiente; por outro lado, alinha-se com a conservação dos bens da terra.

O espiritismo não se alinha com a desigualdade e a injustiça social, pois as desigualdades não são obras de Deus, mas, do homem.

O primeiro direito do homem é viver.

Todos os homens são iguais perante Deus.

O progresso humano só ocorre em sociedade, nas relações sociais.

Nenhum ser humano é propriedade de outro.

Na impossibilidade produtiva, o forte deve trabalhar para o fraco. A família e a sociedade devem acolher os sem condição para o trabalho.

Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.

O Espiritismo é progressista e, portanto, humanista em sua proposta de fazer o Reino de Deus chegar a toda a humanidade, mas não o Reino de César, da matéria; e sim o Reino de Deus, no coração das pessoas. E a pesquisa só vem corroborar isto.

Dito isto, entendemos que é fundamental o estudo das obras kardecianas pelos espíritas, no Brasil; e, a partir delas, estabelecer diálogos com as demais áreas do conhecimento.

É urgente darmos voz a esse espiritismo progressista que vibra em nossos corações. Não nos calemos mais. Kardec nos incita a divulgá-lo com toda a nossa resiliência e coragem.

Esse novo tempo chegou. Kardec ensinou que a missão do espírito encarnado é instruir os homens, auxiliar em seu progresso, melhorar as instituições por meios diretos e materiais.

Não há mais lugar para um espiritismo que não seja convergente com a justiça social.

Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Manifesto de 13 anos do IFEHP - Por um Brasil mais justo e contra a necropolítica

 



Parece que realmente nos mistérios da vida nada acontece por acaso! No ano em que o IFEHP completa 13 anos, o Brasil passa por um momento decisivo e urgente de mudanças a que todos nós somos chamados a colaborar enquanto espíritos encarnados, porque não podemos pecar por omissão, afinal, o bem que se deixa de fazer também é um mal.

Ao longo desses 13 anos experimentamos diversos cenários, mas um deles sempre esteve conosco: o desafio de se estudar e difundir a Filosofia Espírita em um país que já tem dificuldades em lidar com a Filosofia, e no seio de um movimento espírita institucionalizado, religioso e que não conhece os próprios pensadores espíritas clássicos. Por isso, o IFEHP está afeito desde a sua fundação às contracorrentes, fazendo o seu trabalho à revelia de condições favoráveis, criando as suas próprias condições.

Jamais imaginávamos que, de um grupo de estudos pequeno fundado em 2007 por jovens idealistas, fôssemos chegar ao IFEHP fundado em 2009 e toda a jornada que estava a nos esperar nos caminhos da filosofia. Com o nosso primeiro nome homenageamos o estado do Ceará, um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil, e foi assim que nasceu o IFEC – Instituto de Filosofia Espírita do Ceará; posteriormente decidimos homenagear o nosso querido filósofo Herculano Pires, e foi assim que nasceu o nome IFEHP – Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires.

Em nossa fundação e ações posteriores, seguimos os passos de instituições que nos inspiraram e ainda nos inspiram até hoje, como a ABPE – Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e a CEPA, atualmente designada como Associação Espírita Internacional, que tem como um dos seus fundadores outro grande pensador espírita que inspira a nossa pesquisa filosófica: Humberto Mariotti.

O IFEHP sempre prezou pela independência institucional, não tendo nunca se filiado a nenhum órgão federativo oficinal, pois entendemos que a liberdade institucional é necessária para o desenvolvimento e o amadurecimento do pensamento, ainda mais em se tratando de uma instituição filosófica, que por sua natureza é livre para se expressar e para produzir conhecimentos e apontar caminhos de pesquisa e de ação. Portanto, o IFEHP é um coletivo essencialmente livre-pensador, e com o espírito do livre pensamento é que conduzimos todas as nossas ações formativas. É por isso também que o IFEHP se posiciona contra a criação de uma instituição que represente os espíritas progressistas, sob pena de cometermos os mesmos erros da institucionalidade que já presenciamos no meio espírita ao longo de mais de um século, e também porque os coletivos progressistas devem manter sua liberdade de ação e de pensamento, atuando em regime de colaboração e não de submissão a quem quer que seja. Ninguém representa os espíritas progressistas a não ser eles mesmos, em sua diversidade e em sua liberdade.

O IFEHP insere-se hoje no movimento espírita progressista como um coletivo alinhado à filosofia social e à pesquisa filosófica, sociológica, histórica, antropológica e educacional, aproveitando ao máximo as suas vertentes de pesquisa e de atuação. Como coletivo maduro e que continua exercitando aprendizados, o IFEHP mantém-se firme em seus propósitos de ação no mundo, sempre com os olhos voltados para a epistemologia espírita kardeciana em diálogo com a tradição filosófica e com a filosofia espírita presente nos pensadores e pesquisadores que estudamos.

Após 13 anos, continuamos mais fortes em nossos objetivos: 1) realizar letramento filosófico no meio espírita, 2) pesquisar e difundir os pensadores espíritas clássicos, sobretudo os progressistas, 3) promover o diálogo da Filosofia Espírita com a tradição filosófica, e 4) produzir materiais formativos como publicações, cursos, seminários, mesas de debates, etc.

Por tudo o que expomos até aqui, localizamos o IFEHP na perspectiva da Filosofia da Ação, conceito cunhado por Herculano pires, no prefácio de um livro de Humberto Mariotti. Na perspectiva da Filosofia da Ação, não podemos nos omitir frente aos contextos sócio-históricos da reencarnação, ou seja, não podemos tratar a reencarnação como mero laboratório de experiências individuais reduzidas à reforma íntima. Somos chamados a transformar o mundo e a nós mesmos tanto quanto pudermos.

É na hora extrema em que nos encontramos que o IFEHP vem a público declarar o voto útil e necessário na candidatura Lula/Alckmin 13 e nas legendas e candidaturas que a apoiam, para decidir a eleição em primeiro turno – conforme apontam as pesquisas de intenção de voto - por entendermos que é a única possibilidade viável, nesse momento, para derrotar o projeto político da extrema-direita do atual governo: uma política de morte, desemprego, fome e descaso com a população, o que jogou 33 milhões de brasileiros no mapa da fome e da insegurança alimentar. É importante também ampliarmos a quantidade de parlamentares progressistas, para que haja uma governabilidade voltada para s justiça social e para o resgate de políticas públicas que beneficiem a população, sobretudo a mais pobre.

A necropolítica foi a tônica da gestão do atual governo durante a pandemia de COVID-19, acarretando em milhares de mortes evitáveis se tivéssemos um combate eficiente de uma gestão responsável e comprometida com a vida. Nunca poderemos nos esquecer disso, pois as ações irresponsáveis do atual governo contra o povo brasileiro durante a pandemia deverão ser lembradas como um genocídio.

Tivemos um membro do IFEHP, um grande amigo, vitimado em 2021 pela COVID-19, em um período em que o Brasil ainda se debatia sobre a questão da vacina, mesmo já tendo vacina disponível ao redor do mundo. Nosso manifesto também vem em memória de Eugênio Rodrigues Lemos, que estará sempre conosco em nossos corações.

Por fim, agradecemos aos nossos queridos amigos e mentores espirituais dedicados à divulgação da Filosofia Espírita: Herculano Pires, Humberto Mariotti, Manuel Porteiro, Amália Soler e Anália Franco; e ao mestre Allan Kardec por aceitar o desafio de viabilizar a encarnação do Espiritismo no mundo.

Sigamos firmes e confiantes em um Brasil com mais amor e mais justiça social para todos, e continuemos com nosso trabalho de divulgação da filosofia espírita, pois há ainda muito a pesquisarmos e há ainda muito a fazermos. Que assim seja!

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Manifesto do Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP pelo voto útil na chapa Lula/Alckmin 13, para decidir a eleição de 2022, em primeiro turno.

 


MANIFESTO DO FÓRUM DE MULHERES ESPÍRITAS DO IFEHP PELO VOTO ÚTIL NA CHAPA LULA/ALCKMIN13, PARA DECIDIR A ELEIÇÃO DE 2022, EM PRIMEIRO TURNO.

    

O Fórum de Mulheres Espíritas do Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires (IFEHP), composto por mulheres espíritas de várias regiões do Brasil, ante o cenário político eleitoral brasileiro, em 2022, e a poucos dias do pleito, vem a público declarar o voto útil e necessário na candidatura Lula/Alckmin 13 e nas legendas que o apoiam, para decidir a eleição em primeiro turno – conforme apontam as pesquisas de intenção de voto - por entendermos que é a única possibilidade viável, nesse momento, para derrotar esse projeto político da extrema-direita do atual governo: de morte, fome e descaso com a classe trabalhadora desse país. Um projeto lastreado por um histórico de gestão irresponsável, necrófila e destruidora dos bens públicos brasileiros e dos direitos da classe trabalhadora; de posturas e atitudes machistas, misóginas, racistas, com desdobramentos no aumento da violência contra a mulher e dos números de feminicídio, bem como a naturalização com que vem sendo tratada a gestação de crianças por estupro, em situações de vulnerabilidade, inclusive fechando o debate para a questão da descriminalização do aborto.

Para o espiritismo, o homem e a mulher são iguais perante Deus e tem os mesmos direitos (Questão 817, Lei de Igualdade, Cap IX, Livro Terceiro, O Livro dos Espíritos). Com a Doutrina Espírita, a igualdade da mulher não é mais uma simples teoria especulativa; não é mais uma concessão da força à fraqueza, mas é um direito alicerçado nas próprias leis da Natureza. Dando a conhecer estas leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, assim como abre a da igualdade e da fraternidade. (Revista Espírita, Janeiro de 1866). Nessa esteira, nosso Manifesto foi elaborado no sentido de convidar todas as mulheres a enfileirarem-se e abraçarem conosco essa ação coletiva urgente e relevante, pois queremos e precisamos ir além nas conquistas de políticas públicas de gênero dos governos progressistas do passado, destruídas pelo atual governo.

As gestões progressistas do passado deixaram um legado para as mulheres brasileiras e nós precisamos lutar por retomar o que foi destruído e também ampliar os direitos das mulheres e minorias nos próximos governos. Destacamos algumas iniciativas de políticas públicas do legado dos governos Lula e Dilma no campo das políticas para as mulheres, ratificando que continuaremos na luta, porque queremos e merecemos muito mais.

 • Criação, em 2003, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, sendo a responsável principal pela elaboração e monitoramento do Plano de Políticas para as Mulheres;

• Lançamento do Programa Bolsa Família, em 2003. Ênfase no protagonismo feminino no núcleo familiar quando da determinação que, sempre que possível, fosse da mulher a titularidade do cartão de pagamento.

• Transformação da Central de Atendimento à Mulher (disque 180) em Disque-Denúncia que, em 10 anos, atendeu a quase 5 milhões de mulheres.

• Promulgação, em 2006, da Lei Maria da Penha que, até 2015, possibilitou que mais de 300 mil vidas de mulheres fossem salvas e 100 mil mandados de prisão fossem expedidos.

 • Criação, em 2009, do Programa Minha Casa, Minha Vida, cujo lançamento seguiu a mesma lógica do Bolsa Família, ou seja, as chaves da casa própria seriam entregues nas mãos das mulheres, tendo a preferência na assinatura da escritura e permanecendo o imóvel com a mulher em caso de separação. 

• Criação, em 2011, da Rede Cegonha, que passou a oferecer atendimento e parto humanizado em todo o Brasil.

• Criação em 2014, da Casa da Mulher Brasileira, com o objetivo de reunir os serviços necessários à interrupção da violência, com atendimento humanizado, inclusive com alojamento temporário e atenção psicossocial. E ainda, o atendimento especializado também para mulheres brasileiras que vivem no exterior, chegou a 13 países.

• Promulgação em 2015, da Lei do Feminicídio, que transformou o homicídio contra a mulher em crime hediondo.

• Promulgação em 2015, da Lei das Domésticas, que assegura os direitos trabalhistas para milhões de mulheres trabalhadoras em lares de famílias, em sua maioria, negras e pobres.

• Construção de 8.664 creches finalizadas ou com recursos garantidos. A medida permitiu que milhões de mulheres pudessem se qualificar e entrar no mercado de trabalho.

• Documentação da trabalhadora rural, linhas de crédito PRONAF Mulher e o Programa de Organização produtiva de mulheres rurais. Com isso, as mulheres do campo passaram a ser melhor assistidas.

• Crescimento do número de mulheres matriculadas no ensino superior. Em 2002 saltou de 2 milhões para 3,7 milhões, em grande parte apoiadas pelo ProUni e Fies. Muitas delas foram as primeiras pessoas da família a ter um diploma universitário.

 Conhecedoras, portanto, do legado construído nos governos progressistas passados, interrompido pelo golpe jurídico-parlamentar-midiático que arrancou do poder a primeira mulher eleita pelo voto popular para a presidência da república do Brasil, depositamos nossas esperanças em dias melhores e na construção coletiva de políticas públicas para as mulheres e minorias. Por fim, se você pensa em abster-se do voto nessa eleição de 2022, porque não se alinha com os projetos em disputa, saiba que corremos o grande risco de que a alta abstenção contribua para fortalecer o projeto do fascismo que deseja se perpetuar no poder, e, como nós, do Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP, comungamos com a ideia de que votar em candidato ou candidata da 3ª via não nos levará a nada e que o cenário eleitoral está claro e não vai mudar, nos manifestamos pelo voto útil de bom senso na candidatura Lula/Alckmin13, para vitória no primeiro turno, sob pena de aprofundarmos o retrocesso em nosso processo civilizatório.

Seu voto fará toda a diferença!

 Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP - Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires

sexta-feira, 29 de julho de 2022

IFEHP publica Edital para publicação de livro coletivo dos seus membros

 


No último dia 27/07 o IFEHP publicou edital para selecionar artigos para o livro coletivo dos seus membros, cujo título provisório é "Espiritismo Dialético e temas diversos". 

Quem pode participar: membros do IFEHP e do Fórum de Mulheres Espíritas, tendo como referência a data da publicação do Edital, que é 27/07. Os novos membros que ingressarem no IFEHP e no Fórum de Mulheres após essa data poderão participar na próxima oportunidade de um novo edital; o que não impede que unam-se a nós, desde já, nas ações do IFEHP, elaborando textos que poderão, após análise do grupo gestor do IFEHP, ser publicados no nosso Blog.

Demais informações podem ser conferidas na íntegra no Edital, acesso pelo link: Edital do Livro Coletivo do IFEHP


domingo, 3 de julho de 2022

O Espiritismo e sua essência pedagógica - por Jerri Almeida

 


Artigo escrito por Jerri Almeida, escritor e livre-pensador gaúcho, publicado originalmente na página "Jerri Almeida Café com Filosofia Espírita", e gentilmente cedido pelo autor.

"O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral; é um campo imenso que não pode ser percorrido em algumas horas." [1] Allan Kardec
Ao apresentar, em 1857, a primeira edição de O Livro dos Espíritos, e ao longo do século XIX, o conjunto de sua obra, Allan Kardec desvelou um novo paradigma conceitual e filosófico para compreendermos um pouco melhor, a complexa dimensão do Ser.
O inquietante problema do futuro do Ser, com seus possíveis castigos e punições eternas, ou com sua consagração ao eterno ócio, nada criativo, serviu para atemorizar ou tornar cético os indivíduos: “Outra razão que amarra às coisas terrenas até mesmo as pessoas que acreditam firmemente na vida futura, liga-se à impressão que conservam de ensinamentos recebidos na infância. O quadro apresentado pela religião, a esse respeito, temos de convir que não é muito sedutor nem consolador.” [2]
O espiritismo representou uma verdadeira ruptura epistemológica tanto em relação aos mitos ancestrais das culturas agrárias, como com o discurso culpabilizador das teologias do medo. Kardec tem a coragem do investigador e a competência do pedagogo para examinar comparativamente os ensinos de alguns sistemas teológicos, com o espiritismo nascente.
Homem aberto ao diálogo, Kardec, por vezes, lembrou que: “As ideias falsas, postas em discussão mostram seu lado fraco e se apagam ante o poder da lógica.” [3] Assinala, ainda, que o critério de análise para a aceitação de um conhecimento, dito espírita, está no controle do ensino universal dos espíritos.
Na prática, significa que nenhuma verdade aparece isoladamente. A análise do conteúdo e significado das manifestações mediúnicas, por exemplo, foram obtidas por ele através de diferentes médiuns em diferentes localidades. Tais manifestações, antes de serem aceitas como verdadeiras, eram submetidas a uma análise comparativa para que se evidenciasse ou não, o consenso e o caráter de universalidade do ensino. Kardec, utilizando-se de diferentes médiuns, propunha-lhes temas pertinentes a certos problemas filosóficos, científicos e morais, com o objetivo de colher esclarecimentos ou ensinamentos compatíveis com a natureza dos assuntos investigados. Por isso, sua ênfase na “observação” e “dedução dos fatos”, submetidos ao critério da “concordância” ou da “universalidade do ensino”, para assim serem aceitos.
Há, naturalmente, uma busca incessante de conhecimentos e reflexões, iniciadas em O Livro dos Espíritos e que, evidentemente, não para com ele, nem mesmo o esgota em todo o seu potencial doutrinário. Isso oferece, ao conjunto da obra kardequiana, uma importante organicidade e nos convida ao estudo integrado de seus textos, de forma a evitarmos a fragmentação da teoria.
O espiritismo retifica todas as ideias equivocadas, construídas ao longo da história humana, sobre o futuro da alma, sobre o céu, o inferno, as penas e as recompensas; Demonstra, tanto pelas comunicações mediúnicas, balizadas pelo método da concordância universal, como pelo viés da razão e da lógica, a impossibilidade das penas eternas e dos demônios, numa palavra: “descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme à justiça de Deus”. [4] Abre um novo campo à educação, numa perspectiva de pensarmos o presente e o futuro com menos temor, com mais lucidez diante de nossas possibilidades de ação e aprendizado.
Dissipando velhas ideias, Kardec asseverou em 1865: “...uma ciência nova, que dá tais resultados em menos de dez anos, não é acusada de nulidade, porque toca em todas as questões vitais da humanidade e traz aos conhecimentos humanos um contingente que não é para desdenhar.” [5] O espiritismo prende-se, como afirmou [6] o insigne pedagogo francês, a todos os ramos da filosofia, da metafísica, da psicologia, da moral e, poderemos acrescentar também, da educação.
A rigor, compreendemos que a doutrina espírita, por sua natureza dinâmica, racional e ética, é capaz de formular uma educação profunda, capaz de estimular uma nova concepção do homem e da vida, posto que depositária de uma ordem de ideias essencialmente humanista. Portanto, não seria demais afirmarmos que Kardec, na sua condição de pedagogo, imprimiu no espiritismo uma essência pedagógica com dimensões muito amplas.
Discutiu, por vezes, o impacto dessas novas ideias na formação infantil.
"Ele (o espiritismo) já prova sua eficácia pela maneira mais racional pela qual são educadas as crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de modo bem diverso; sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade, forçosamente deverá projetar luz sobre a grave questão da educação moral, fonte primeira da moralização das massas." [7]
A teoria espírita lançando significativos esclarecimentos sobre o mistério da existência agrega, inevitavelmente, novos elementos na estrutura familiar, especialmente na educação de pais e filhos. A dimensão educacional do espiritismo, segundo Kardec, teria efeitos na composição de novos elementos culturais através das gerações. Não se trata apenas de limitarmos os efeitos dessa filosofia ao aspecto moral, mas de ampliarmos tais efeitos para o universo da própria cultura.
Desde a infância, o ser começa a absorver a herança cultural que assegura sua formação e orientação ao longo do tempo. Quando essa herança é limitada ao pensamento materialista ou aos elementos mítico-religiosos, ela fecha o sujeito para voos mais amplos de compreensão e inserção mais plena na vida. Nesse sentido, o espiritismo, em sua perspectiva educacional, abre a cultura para os aspectos mais profundos da identidade espiritual e para o aperfeiçoamento integral do Ser.
Assim como, no dizer do sociólogo francês Edgar Morin, o patrimônio hereditário do indivíduo está inscrito no código genético, o patrimônio cultural está inscrito, primeiro, na memória (individual e coletiva) e, depois, na cultura formal (leis, literatura, artes, religião, educação, etc). Segundo Morin, a cultura é fechada e, ao mesmo tempo, aberta, pois enquanto o dogmatismo do pensamento enclausura o conhecimento, o dinamismo cultural o abre para novas possibilidades.
Nesse sentido, percebemos uma valiosa contribuição do espiritismo no campo educacional do espírito humano, abrindo a cultura para novas possibilidades de ver o mundo num contínuo dinamismo conceitual. Dessa ação pedagógica profunda (não formal), emergem novos significados sobre as leis da natureza, sobre a felicidade humana, sobre a morte, sobre o complexo familiar, sobre os conflitos e sofrimentos humanos, individual e coletivo.
Dessa forma, a essência pedagógica do espiritismo, sem nenhuma pretensão proselitista ou salvacionista, estabelece uma ação educativa no momento em que nos desafia para uma mudança de percepção sobre nós mesmos, nos oferecendo horizontes mais amplos de compreensão sobre a admirável estrutura das leis naturais e morais da vida, garantidoras de felicidade e paz.
NOTAS

[1] KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo. Segundo diálogo.
[2] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, Primeira parte, Cap. II, item 6.
[3] KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1865, p. 295
[4] KARDEC, Allan. O Que ensina o Espiritismo. In. Revista Espírita, agosto de 1865, item 3º.
[5] Idem. p. 224. Edicel.
[6] KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo. Segundo Diálogo.
[7] KARDEC, Allan. Primeiras Lições de Moral na Infância. In. Revista Espírita, fevereiro de 1864.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Criança não é mãe! Estuprador não é pai! - Nota de Repúdio - Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP

 


O FÓRUM DE MULHERES ESPÍRITAS DO IFEHP REPUDIA A DECISÃO DE DUAS MAGISTRADAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA - SC QUE IMPEDIU UMA CRIANÇA DE 11 ANOS DE REALIZAR ABORTO. GESTAÇÃO FRUTO DE ESTUPRO.

 

Pergunta de Allan Kardec aos espíritos. Questão 359 do “O Livro dos Espíritos”. No caso em que a vida da mãe estaria em perigo pelo nascimento da criança, há crime em sacrificar a criança para salvar a mãe. Resposta dos espíritos. É preferível sacrificar o ser que não existe a sacrificar o que existe.

 

O Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP - Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires, lançou em março do corrente ano o “Movimento de Sensibilização sobre os abusos sexuais nos meios espiritualistas” com o objetivo de nos somarmos ao coro de vozes de indignação e repulsa às diversas formas de violência e abuso sexual, contra crianças, adolescentes, mulheres. Nosso papel é pautar as temáticas que são invisibilizadas pela sociedade, inclusive nos meios espíritas e dialogar sobre as diversas possibilidades de ação no combate aos crimes desta natureza.

Desta forma, o Fórum de Mulheres vem a público repudiar a nefasta atitude da juíza Joana Ribeiro Zimmer e da promotora de justiça Mirela Dutra Alberton por violarem os direitos fundamentais de uma criança de 11 anos vítima de violência sexual – gravidez decorrente de estupro. E essa criança não foi a primeira nem será a última se continuarmos fechando os olhos para essas aberrações. O crime aqui configurado é o do ESTUPRO de vulnerável, menor incapaz. A criança de 11 anos não está em julgamento, aqui.

Perguntas da juíza Zimmer em audiência com a criança de 11 anos grávida por estupro. “Você acha que o pai do bebê concordaria com a entrega para adoção?”   “Qual a expectativa que você tem em relação ao bebê? Você quer ver ele nascer?”  Essas duas perguntas foram feitas por uma juíza a uma criança de 11 anos.  Essa criança foi retirada de sua residência e colocada em uma instituição (detida no caso) para prosseguir com a gestação e “proteger o feto”. Quem protege quem???? É cruel demais.

CRIANÇA NÃO É MÃE! ESTUPRADOR NÃO É PAI!

A circunstância a que essa menina foi submetida corresponde à revitimização, que intensifica muitos problemas e causa outros.  O abuso sexual, por si só, já produz problemas de autoestima, sentimento de culpa, autoimagem distorcida, dificuldades na sexualidade.  A formação e o desenvolvimento físico e emocional desta vítima está sendo desconsiderada, podendo gerar consequências para toda a sua vida. Infelizmente, a criança vítima de abuso foi criminalizada e, em nome da vida do feto, foi desconsiderada a vida de alguém que já nasceu. Essa criança pode se tornar emocionalmente morta em vida, em função do sofrimento a que está sendo exposta.

Em regra, no Brasil o aborto é crime, entretanto, existem situações em que é possível a interrupção da gravidez.

Artigo 128, inciso II do Código Penal – “Não se pune o aborto praticado por médico, II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Ressalte-se que a criança foi “inquirida” se desejaria continuar com a gravidez e negou.

Essa criança de 11 anos, ao invés de ser acolhida e amparada pela justiça, sofreu nova violência por quem a deveria proteger: desde o momento em que foi afastada do convívio familiar por decisão da justiça (mantida em um abrigo) e agravada com a decisão da juíza e da promotora quando impediram o aborto. O sistema de justiça brasileiro comete crime ao negar a uma menina de 11 anos o direito à sua própria vida. Ao se manifestarem a favor do feto de 22 semanas, a juíza e a promotora não o fazem em respeito à vida, mas em nome de preceitos religiosos e de falso moralismo que só perpetuam a violência e a tortura em um Estado que, constitucionalmente, é laico.

Entenda os direitos que a juíza Zimmer viola ao impedir o aborto legal de uma criança de 11 anos, gestante, vítima de estupro:

ü  A lei brasileira não define até que idade gestacional o direito ao aborto deve ser respeitado, em especial quando a vida da gestante está em risco (estamos falando de uma criança de 11 anos).

ü  A OMS atesta que um parto apresenta muito mais riscos para uma criança gestante do que o aborto

ü  O tratamento cruel a que essa criança está sendo submetida quando foi retirada do convívio familiar e ser colocada em um abrigo, por decisão judicial, como justificativa de proteção ao feto. Na audiência com a juíza, a criança de 11 anos foi coagida a manter a gestação.

ü  É um caso grave de violação dos direitos por parte do judiciário brasileiro que contraria a legislação sobre o aborto.

Nós, do Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP entendemos que o aborto é um problema social, de saúde pública. Precisamos dialogar e analisar o impacto da atual legislação brasileira e estrangeira sobre o aborto na vida e na saúde das mulheres, pois as estatísticas somente confirmam o quanto ainda é negado aos mais vulneráveis, em especial às mulheres, o direito de realizarem um aborto seguro, nas hipóteses em que é permitido por lei. O enfoque gira em torno da dificuldade das mulheres em fazê-lo, devido à falta de informação, ao preconceito, ao despreparo dos profissionais da saúde dentre outros inúmeros fatores que demonstram a ineficácia do Estado em garantir o acesso à saúde pelas mulheres.

O direito ao aborto em caso de violência sexual de vulnerável necessita ser respeitado juntamente com a valorização da vítima e a humanização do atendimento a mesma.

No caso presente desta Nota de Repúdio nos solidarizamos com essa família violentada pelo Estado, e pedimos que a verdadeira justiça seja feita para essa criança, estuprada e grávida. Que o direito ao aborto legal, previsto em lei, seja respeitado.

Uma criança de 11 anos não tem maturidade física e nem emocional para gestar um ser.

Brasil, 22 de junho de 2022.

Fórum de Mulheres Espíritas do Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires - IFEHP




quinta-feira, 9 de junho de 2022

Artigo: Espiritualidade feminina: existe uma espiritualidade negada à mulher? - por Heloísa Canali

 


Autora: Heloísa Canali, membra do Grupo Gestor do IFEHP e do Fórum de Mulheres Espíritas, servidora pública federal na UFPA, pós-graduada em Pedagogia Espírita. O presente artigo deu origem à conferência ministrada pela autora, em virtude do encerramento da I Semana Amélie Boudet, no dia 13 de maio de 2022, evento realizado pelo IFEHP e pelo Fórum de Mulheres Espíritas do IFEHP.

Quero começar essa fala trazendo Kardec para nos auxiliar a pensar sobre a existência de uma espiritualidade feminina, por meio de um texto presente na RE, Ano IX de janeiro de 1866 intitulado: As Mulheres têm alma?

Essa interrogação se constitui numa questão religiosa. Porém, mais que a forma da pergunta, Kardec a alicerça sob um substrato social e humano, pois o que ele argumenta como questão de fundo, são direitos sociais e intelectuais das mulheres. Nem sempre foi certa uma resposta positiva à essa pergunta que intitula o artigo da RE, pois ao que se sabe foi posta em deliberação num Concílio. Essa “dúvida”, no entanto, foi aparentemente dirimida. A dúvida sobre a condição espiritual da mulher, gerou consequências desastrosas que ainda hoje se mantêm, e trouxe enormes prejuízos morais e sociais às mulheres a ponto de, em certas culturas, termos sido definidas como “instrumento de prazer do homem”.

O preconceito sobre a inferioridade e consequente desumanização das mulheres foi construída por homens, por meio de substratos filosóficos e posteriormente religiosos. Está presente na fala do filósofo grego Pitágoras que afirma: “Existe o princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher". Eurípedes considerava a mulher "o mais temível dos males". Aristóteles em sua obra Política, tece considerações a respeito dos papeis sociais de gênero ao afirmar que o macho é mais preparado para direção do que a fêmea; os corpos femininos são frágeis e débeis, as mulheres, portanto, são inferiores em termos anatômicos, fisiológicos e éticos. Revela-se, dessa forma, o pensamento predominante da sociedade grega da época.

No discurso religioso do Cristianismo, responsável por uma explicação cristã da desigualdade entre homens e mulheres, observamos São Paulo aconselhar as mulheres a serem submissas, pois seus discursos indicam subalternidade em relação aos homens. Santo Agostinho complementa: "A mulher é uma besta insegura e instável"; São Cristóvão afirmou: "Entre todos os animais selvagens, não há nenhum mais daninho do que a mulher".


Nas mais diversas religiões, a mulher sempre foi desconsiderada, aviltada, espoliada de direitos intrínsecos e naturais. A mulher não pode governar-se por si mesma, há que ter quem lhe dite o comportamento, obviamente, um homem. Na China, o conselho do sábio era no sentido de que não se confiasse na mulher. Na Rússia, era norma de sabedoria popular que, para cada dez mulheres, existe apenas uma alma.

A história mostra a mulher discriminada em todas as épocas. A discriminação contra a mulher é produto do sistema social, sedimentado através dos séculos e não guarda qualquer relação com disposições da Natureza. É produto do Patriarcalismo cuja feição machista decorreu da força física atribuída ao corpo masculino, enquanto o corpo da mulher foi e ainda é considerado mais frágil e débil, muito embora nos dias atuais nos deparemos com outras realidades sobre os corpos que merecem amplas e científicas discussões. Todos esses discursos integram um conjunto mais amplo de poder e biopoder. Discursos que influenciaram os comportamentos, valores e práticas de homens e mulheres desde tempos imemoriais.

O Patriarcado, como estrutura política mais arcaica e permanente da humanidade, sustenta sua  permanência em seu caráter religioso de raízes cristãs, o qual é assumido pelas crenças e valores da tradição cristã como algo sagrado. Traz no discurso religioso e suas práticas, imposições extremamente perversas para as mulheres, pois naturalizavam a inferioridade de seus corpos  acrescido de argumentos relacionados a honra, a moral e a capacidade intelectual.

 

 Por meio de mitos o Patriarcado vai se mantendo. Mitos como o da criação do homem e da mulher e do pecado original descritos em Adão e Eva, presentes também nas narrativas de diferentes povos é um deles. Eva, despudorada, foi a causa da queda do homem, responsável pela destinação penosa da humanidade através da necessidade do trabalho como castigo divino, em sua desobediência à ordem do Senhor.  Posteriormente, um contraponto foi acrescido a essa narrativa, no momento em que a necessidade da Igreja de se atualizar para conformar seus anseios políticos ao Estado e à cristandade, trazendo para a cena a figura da Virgem Maria, vulto angélico de expressiva suavidade em sua maternidade sublime. A Igreja, logo fará da virgem Maria um ser cuja característica feminina só será confirmada pelo aspecto de mãe sofredora, sacrificada e “escrava do filho”.

 

A filosofia do Cristianismo teve uma nova interpretação através da Doutrina Espírita por Allan Kardec. Aboliram-se todos os dogmas criados pela Igreja Católica como o da criação do mundo, o qual passa a ser explicado pela teoria evolucionista, e personagens como Adão e Eva perdem sua força. A missão materna, através do símbolo de Maria, representava para o patriarcalismo judaico uma dose de superação, visto que a mulher será então objeto de culto, entendimento de que, se Eva causara a perda da humanidade, Maria contribui para salvá-la, e aquela que, considerada nefasta e perigosa, podia tornar-se objeto de salvação e veneração. No entanto, a Igreja Oficial logo esvazia esse conceito de toda sua significação. O que poderia considerar-se mudanças, constitui-se em fixação de um olhar patriarcalista e machista sobre a condição das mulheres.


Durante a Idade Média, as mulheres foram confinadas aos seus lares e conventos, ou perseguidas por práticas de feitiçaria. O século XVIII, alvorecer das ideias iluministas, sob forte influência do pensamento grego, insistem na superioridade do homem a partir da dita fraqueza das mulheres, portanto, não cabe a elas as atividades de mando, nem científicas e filosóficas.

 

Essa realidade cultural machista e misógena no mundo moderno é que leva Kardec a escrever seu artigo “A Mulher tem Alma? Para ele era muito claro uma resposta afirmativa, então aproveita-se de uma contenda judicial em que se negava diploma acadêmico a uma mulher, para propugnar direitos iguais às mulheres, que pela inteligência e pelo gênio se afirmaram, mesmo que consideradas incapazes para ditas atividades em frente ao poder do patriarcado. Kardec entende e prevê que a emancipação total da mulher se daria por meios legais e abrangentes, aspecto que não pode deixar de ser considerado, no entanto, esses direitos a elas não seriam mais dados por concessão, mas por força de uma legislação justa e equânime no futuro, vez que a desigualdade de tratamentos não decorria da natureza, mas sim da imposição pela força física e poder social dos homens sobre as mulheres. Kardec vai mais além justificando seu ponto de vista considerando o princípio espírita de que Deus não criou espíritos masculinos e femininos sendo estes inferiores àqueles. Propugna igualdade dos direitos entre homens e mulheres, consoante registros na questão 822 em O Livro dos Espíritos: “todo privilégio concedido a um, ou a outro, é contrário a justiça. A emancipação da mulher caminha com a civilização, sua subjugação caminha com a barbárie.”

Diante disso, podemos constatar que, em nossa cultura religiosa judaico-cristã ocidental, encetamos grandes lutas; vivemos sucessão de episódios dolorosos e difíceis porque à mulher não foi permitido administrar sua própria vida. As mulheres das gerações passadas não tiveram muitas escolhas e muito menos escolhas fáceis – e hoje, as temos? Precisaram, e muitas de nós ainda precisam descobrir suas reais necessidades e potencial, vencer medos e preconceitos, derrubar mitos e a ter uma audácia necessária para romper com a realidade que oprime e mata mulheres.

Já que temos alma, ou seja, somos espíritos, e como reencarnados somos um ser bio-psico-social-espiritual reencarnante, temos uma espiritualidade a ser desenvolvida à medida em que vamos tomando consciência de nosso lugar dentro de nós mesmas e diante do mundo e do universo. Mas, o que pensamos que seja espiritualidade? A espiritualidade pode ser definida como uma "propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio". A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa. (Wikipédia GUIMARÃES, Hélio Penna. «O impacto da espiritualidade na saúde física» (PDF). Rev. Psiq. Clín. ), mas não confunde-se com práticas religiosas, embora estas sejam meios para exercer a espiritualidade.

Trazemos o que  Dora Incontri nos diz sobre o que é Espiritualidade, em seu livro A Educação Segundo o Espiritismo: “Espiritualidade é a conexão do ser humano consigo mesmo, com o transcendente, com Deus, com o espiritual. Pode se manifestar em qualquer forma religiosa ou não aparecer vestida de uma religião específica. Mas é a espiritualidade que dá suporte nas horas difíceis, pois ela nos permite a prece, a elevação do pensamento acima das circunstâncias terrenas. Ela empresta resiliência e confere sentido à existência. Qualquer forma de espiritualidade experimentada de forma saudável, sem fanatismo ou intolerância, pode trazer benefícios ao indivíduo e é muito importante no ato de educar”. O Espiritismo é uma forma de espiritualidade que procura racionalizar a fé e elevar o sentimento religioso, despojando-o de rituais e simbolismos.”

Segundo nossa construção cultural e religiosa, desenvolver e/ou praticar espiritualidade está relacionada às Religiões e com tudo o que elas representam: domínio, poder, hierarquia,  e a pretensão de serem donas de verdades absolutas e fechadas. Todavia, se quisermos desenvolver nossa espiritualidade, precisamos de analisar se as religiões com seus dogmas, rituais e tradições nos oferecem  caminho seguro para  vivenciarmos experiências que nos liguem verdadeiramente com nossa essência diante da presença de uma autoridade interna que podemos chamar de Intuição, Consciência, Deus Interior, na qual a prática dessa espiritualidade está motivada pelo desejo de nos reunir, religar, conectar com o ser superior.

Nos contextos religiosos hegemônicos, conservadores, castradores de liberdades as religiões assim constituídas deturparam as histórias das mulheres. Se demonstrassem inteligência, espírito livre, se curavam a si e aos outros, se fossem guerreiras, se tivessem desejo de amar e serem amadas eram dadas como prostitutas, loucas, profanas. Somente  às mulheres castas, puras, maternais, conselheiras, mães e que fossem exemplos de abnegação e fé era concedido o exercício de espiritualidade. A mediunidade lhes foi negada, apenas as figuras masculinas possuíam “poderes” espirituais. Esses estereótipos ainda hoje repercutem nas mulheres contemporâneas que sofrem culpa e medo originadas pela repetição naturalizada de conceitos e preconceitos da sociedade patriarcal e machista presente nas Religiões.

Muitas mulheres deram testemunhos de sua espiritualidade em alto grau , mas não sem sofrerem as injustiças e vilipêndios que alcançam o seu direito de viver. Segundo historiadores, Maria Madalena, a prostituta, endemoniada (a mulher dos sete demônios), era helenizada, culta, falava vários idiomas, possuía riqueza, espírito livre e não se deixou prender pelo casamento. Seguiu Jesus.

Joana D’Arc, considerada uma heroína da França pelos seus feitos durante a Guerra dos Cem Anos. Joana dizia receber visões divinas do arcanjo Miguel, de Santa Margarida e da Santa Catarina, que a instruíram a ajudar as forças de Carlos VII e livrar a França do domínio da Inglaterra. Foi capturada em uma batalha e entregue aos ingleses que a entregaram à Sta. Inquisição. Foi condenada à fogueira sob acusações de cunho religioso. Curioso observar de que forma se exterioriza a espiritualidade dessa jovem mulher, que negando sua condição feminina, por meio da mediunidade entrega-se a defender sua pátria em seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

D. Maria Padilla – espanhola (1334-1361) rainha de Castella, que mesmo em narrativas diversas, descrevem-na como inteligente, com capacidade de raciocínio,  médium, dotada de muita fé aliada a doçura na alma,  auxiliou o rei Pedro, o Cruel a governar com discernimento e clareza. Fundou a Ordem das Clarissas de Sta. Clara de Assis para acolher mulheres, que mesmo casadas, poderiam se refugiar de seus maridos, pais e irmãos que as acusavam de bruxaria. Foi acusada pelo cunhado de assassina e prostituta.  Repete-se aí o estereótipo dado à Maria de Madalena. Há narrativas de que esse Espirito feminino veio, por meio da mediunidade de uma negra escravizada, aqui no Brasil, comunicar-se e contar sua história, fazendo-se presente fortemente nos terreiros de Candomblé e Umbanda. Coordena uma organização de espíritos femininos, fundada no plano espiritual, em sua maioria constituída de mães, avós, tias, bisavós de seus protegidos ou de médiuns, formando uma grande ligação com a ancestralidade. São conhecidas como Pombas Giras da linha de Exu. Pomba Gira, portanto, é uma grande organização feminina que atua principalmente no plano material contra  ataques de toda ordem a outras mulheres e desejam que essas mulheres sejam autossuficientes. Não trabalham para desviar, desagregar ou induzir as pessoas ao erro, ao contrário, são leais ao processo de aprendizado e evolução da humanidade em todos os sentidos. A esses espíritos femininos são atribuídos a pecha de devassas, mundanas, debochadas, donas de dotes de sedução que as fazem  menores diante do conceito padrão machista de mulheres “recatadas e do lar”. Diz-se ainda  que, ao se deturpar o trabalho espiritual da Organização das Pombas Giras fere-se a ancestralidade e suas lutas enquanto encarnadas, castra-se o lado feminino das religiões onde as mulheres sempre são submissas ou submetidas a trabalhos menores de servir aos interesses daqueles que mandam.

Destarte a inferiorização e subalternidade de que as mulheres são vítimas, do pensamento retrógrado que as afeta, inclusive com relação à mediunidade e à espiritualidade, há grandes vultos femininos no Espiritismo que nos inspiram a caminhar. E nesse momento prestamos nossas homenagens e gratidão pelos exemplos de destemor e dedicação às causas justas e necessárias ao progresso que as mulheres espíritas que nos antecederam exemplificaram , vivendo suas espiritualidades, incentivando-nos a construir novos horizontes para as mudanças necessárias e urgentes no mundo feminino.

IRMÃS FOX - que por meio da mediunidade popularizam a comunicação dos espíritos redundando nas pesquisas sobre os fenômenos espirituais até chegar ao Prof. Rivail. Sofreram chacotas, injustiças, assédios.

SRA. PLAINEMAISON – antecede a codificação da Doutrina. Organizava sessões espíritas em sua casa, onde Kardec faz suas primeiras observações.

AMÉLIE BOUDET ,  BERTHE FROPO E ANNA BLACKWELL - Madame Kardec, imprescindível colaboradora no trabalho de construção do Espiritismo ao lado do marido. Foi invisibilizada  pelo Movimento Espírita Brasileiro que a considerou num papel coadjuvante constituindo-se apenas em esposa  de Kardec. Após o desencarne de Kardec essas três mulheres intelectuais uniram-se em defesa do legado Kardeciano contra as infiltrações de outras teorias espiritualistas como a Teosofia e o Roustanguismo sob o pretexto de atualizar o Espiritismo. Denunciaram publicamente suposta  corrupção praticada por “amigos” espíritas de Kardec que o sucederam. Fizeram suas refutações e depoimentos por meio de publicações em brochuras, jornais e revistas espíritas. Amélie foi fundadora da Sociedade Anônima que deveria divulgar as obras espíritas de Kardec e protestava nas reuniões da Sociedade, mas sua voz não era ouvida; foi desrespeitada, sofreu preconceito e assédio moral por parte dos próprios amigos de Allan Kardec, que acabou adoecendo o que levou-a a se ausentar das reuniões da Sociedade. Foi ignorada a tal ponto que Leymarie não lhe prestava nenhuma conta. Sofreu maledicência, quando Leymarie (Secretário-gerente da Revista Espírita e membro administrador da Sociedade Anônima da Caixa Geral e Central do Espritismo) respondia à solicitação de baixar o preço dos livros, que não podia fazê-lo pois Amélie recebia uma pensão da Sociedade. No entanto, ela se impunha duras privações que comprometiam sua saúde já debilitada, do que ser vista como avara. Seu objetivo era “difundir a instrução moral e intelectual entre os adeptos pobres do Espiritismo e ver crescer a obra de Kardec”.

Berthe Fropo, tornou-se conselheira e amiga íntima de Amélie, foi vice-presidente de uma instituição espírita, a União Espírita Francesa, que muito ajudou a denunciar e combater desvios doutrinários no Espiritismo do pós Kardec. Anna Blackwell a primeira tradutora mulher das obras da Doutrina, além de ter sido hábil escritora e pesquisadora, revelando e publicando novos dados biográficos de Allan Kardec.

ERMANCE DUFAUX – principal médium das sessões domésticas de Kardec.            

IRMÃS BAUDIN – A família Baudin é importante para o movimento espírita pois as Srtas.Baudin foram as duas primeiras médiuns utilizadas por Allan Kardec para a preparação da 1ª Edição de O Livro dos Espíritos.

AMALIA DOMINGO SOLER -  (1835-1909) foi uma escritora e grande expoente do movimento espírita espanhol, pela sua atuação como divulgadora e médium psicógrafa. Seus escritos destacam-se pelo estilo poético e leve.

É também caracterizada pelas inúmeras dificuldades que suportou com força e coragem. Conhece o Espiritismo por meio do seu médico que lhe ofereceu um jornal espírita. Ela se integra ao movimento, frequenta às reuniões e se torna espírita. Escreve um jornal espírita e seu primeiro artigo, A Ideia de Deus foi muito combatido pela igreja católica. Escreveu para vários periódicos deixando um grande legado literário para o Espiritismo Espanhol e mundial. Coordenou como vice-presidente o I Congresso Espírita Internacional em 1888, Barcelona, pela Federação Espírita Espanhola. No Brasil é vista somente como poetisa.


IVONE DO AMARAL PEREIRA – com sua mediunidade, simplicidade e liberdade pode exercer sua faculdade para curar os obsessos e como médium receitista. Além do mais, o que marca em Ivone em atuação mediúnica foi a sua independência, tanto que  questionava com fundamento os entraves burocráticos que algumas casas espíritas impõem aos seus trabalhadores.

AUTA DE SOUZA – poetisa da 2ª geração romântica. Escrevia poemas românticos com  influência simbolista e de alto valor estético. A maior poetisa mística do Brasil (Luis da Câmara Cascudo). Continua a produzir arte pós desencarnação por meio da mediunidade.

ZILDA GAMA – Médium antecessora de Chico no cenário do Espiritismo.

ANÁLIA EMÍLIA FRANCO (1856- 1919) – Foi a educadora das massas, das camadas mais simples da população, das mães desamparadas. Atendeu a mais de 1000 estudantes dos dois sexos nas Escolas Maternais, Asilos, Creches, Liceus e Escolas Normais cujo método de ensino preconizava a instrução aliada à formação moral da juventude num conceito de educação integral. Alfabetizava e profissionalizava mulheres para que saíssem da pobreza ou, por opção, desgarrar-se da tutela do marido. Fundou mais de 100 escolas destinadas a beneficiar e educar crianças e senhoras de todas as classes e seitas diversas, por isso limitavam-se ao ensino das verdades fundamentais como a existência de Deus, a imortalidade da alma e ao ensino da mais pura moral sem prejudicar as crenças das famílias a que pertenciam as crianças. Expulsa de uma cidade do interior de S. Paulo porque insistia em abrigar e ensinar crianças brancas e negras juntas, algo considerado uma promiscuidade escandalosa à época. Mendigou para crianças filhas de escravos. Fundou, em 24 cidades do interior de S. Paulo 71 escolas, 2 albergues, 2 colônias regeneradoras para mulheres, 25 asilos para órfãos, 1 banda de música feminina, 1 orquestra e 1 grupo dramático. Grande desconhecida!

AMÉLIA RODRIGUES - (1861-1926)- Educadora, teatróloga e escritora. Dedicou-se ao jornalismo como colaboradora de publicações religiosas como "O Mensageiro da Fé", "A Paladina" e "A Voz". Escreveu algumas peças teatrais, entre as quais "Fausta" e "A Natividade". É autora dos poemas "Religiosa Clarisse" e "Bem me queres". Produziu ainda obras didáticas, literatura infantil e romances. Continuou seu trabalho após desencarnar por meio da mediunidade.

BENEDITA FERNANDES – (1883-1947) Mulher negra. Obsediada, tida como louca, foi curada por meio do Espiritismo. Relata que ouviu uma voz que lhe disse: “Benedita, se prometeres consagrar-te inteiramente aos enfermos e pobres, sairás curada daqui”. E assim ela o fez. Após curada, criou o Lar Benedita Fernandes de Araçatuba e o Sanatório Benedita Fernandes de Araçatuba. Era médium, passista e evangelizadora de crianças. Pioneira do Movimento de Unificação dos Espíritas quando fundou em 1940 a União Espírita Regional Noroeste sendo eleita sua primeira presidente.

ADELAIDE AUGUSTA CÂMARA – AURA CELESTE – (1874- 1944) Educadora. Trabalhou junto ao espirito médico Dr. Joaquim Murtinho, que por seu intermédio atuou na cura de muitos. Fazia conferências e publicou vários livros: Vozes D’Alma, Aspectos da Alma, Palavras Espíritas, Rumo a Verdade e Luz do Alto. Criou o Asilo Espírita João Evangelista( RJ) em 1927 para crianças e velhice desamparada. Mãe dos Órfaos.

SCHEILA (Espírito) – Baronesa de Chantal, Ao enviuvar dedicou-se aos filhos e a cuidar de necessitados. Fundou a Congregação de Visitação de Maria e 87 conventos. Como Espírito desencarnado trabalhou com o médium de materialização em curas Peixotinho. Se apresenta como uma enfermeira alemã que trabalhou na 2ª guerra mundial.

MEIMEI - Irma de Castro Rocha, conhecida como Meimei por meio de psicografias, foi um espírito que se manifestava mediante as cartas do líder espírita Chico Xavier. Ela deixou grandes lições de benevolência com o próximo e sua história foi contada em diversas obras mediúnicas. São elas: “Pai Nosso”, “Amizade”, “Palavras do Coração”, “Cartilha do Bem”, “Evangelho em Casa”, “Deus Aguarda” e “Mãe”.

DORA INCONTRI - Uma mulher contemporânea, estudiosa, escritora em prosa e versos de alto grau de espiritualidade no que produz e no que exemplifica. Exemplo de destemor, dedicação e compromisso, de espírito refinado, que ao propor novos entendimentos, novas frentes conceituais, novas práticas, desconstrução de ideias equivocadas nos ajuda a olhar pra dentro de nós e para o mundo, e o faz com grande sensibilidade e respeito às individualidades. Sempre sofreu e sofre ataques machistas, mas seu lugar de mulher no mundo e no Espiritismo é defendido com coragem e muita esperança. Obrigada Dora.

Mulheres inspiram outras mulheres com exemplos de coragem e muitas vezes com delicadeza feminina. Todavia essa delicadeza não pode ser confundida com submissão e aceitação do que está posto pelas estruturas patriarcal e machista da sociedade a qual pertencemos. Elas precisam transgredir o que está posto como norma social e que, eventualmente, as demandas podem passar para as legislações, mas que, quase sempre não refletem justiça e proteção integral, quando não são implementadas pelos aparelhos do Estado. A mulher precisa ser vista com direitos ao respeito, ao trabalho, a vida digna, à educação, amparo para criar seus filhos, a exercer sua sexualidade e sua religiosidade como lhe aprouver.

Pelos contextos vividos, percebemos que qualquer projeto civilizatório em que a visão do mundo está definida pela superioridade de um dos gêneros o qual  detém o poder e por meio dele subjuga o outro, como o é no regime de patriarcado, passa a ser a fundação de todas as desigualdades e expropriação de valor que constroem o edifício de todos os poderes: econômico, político, intelectual, artístico, etc.

Finalmente, podemos dizer que a luta incessante das mulheres pelo reconhecimento de sua condição de sujeitos e protagonistas de suas próprias vidas, passa obrigatoriamente pelo Feminismo visceralmente imbricado na Religião. O Feminismo pode ser entendido como uma teoria em movimento, que apreende tudo aquilo que diz respeito à emancipação das mulheres, que procura explicar a situação das mulheres e elabora permanentemente a crítica e a denúncia da injustiça da sociedade patriarcal, capitalista, racista; e como movimento, luta pela transformação social, assim como também é uma atitude pessoal diante da vida.

Buscando, ainda, responder a pergunta que nos serve de introdução ao tema ora refletido, diríamos que, o que nos é negado não seja propriamente a espiritualidade, mas as suas expressões no mundo externo. As expressões dogmatizadas, ritualizadas, cheias de fórmulas e normas a serem seguidas, padronizadas, institucionalizadas, para que todas e todos se incluam, são aquelas consideradas válidas e legitimadas pela sociedade perante à divindade, seja qual for a divindade a qual nos vinculamos. Observamos ateus se curvarem diante da Natureza, pois reconhecem sua força e procuram se conectar com ela dos mais variados meios, desde que esses lhes tragam paz e bem-estar. Trazemos em nós a marca da divindade desde a nossa idealização por Deus como inteligência suprema do universo, desde que em nossos primórdios nesse planeta enterrávamos uns aos outros, após a morte do corpo, em sentido vertical com os braços voltados para o alto, como que em busca da conexão com o transcendente. Exercitamos espiritualidade quando adotamos uma Religião ou qualquer outra doutrina espiritualista, e até as materialistas, para orientar nossa caminhada, pois o anseio de transcender a nós mesmos e àquilo que ainda desconhecemos, nos constitui desde sempre. Para reencarnacionistas espíritas, esse exercício de espiritualidade toma uma dimensão ampliada, porque esses devem ter consciência de sua responsabilidade individual e coletiva no progresso da humanidade, a qual só se fará com atuação ativa de homens e mulheres sobre as questões que ferem as individualidades e as liberdades, cenário que ainda nos oprime a exigir posicionamentos e atitudes que semeiem para o estabelecimento de um futuro mundo de justiça, amor e caridade.

REFERÊNCIAS:

ÁLVARES, Maria Luiza Miranda. Saias, laços e ligas. Um estudo sobre as formas de participação política e partidária das mulheres paraenses. Belém/Pará: Paka Tatu, 2020. 

CAMPANARO, Priscila Kikuchi. Branquitude e religião: uma análise autoetnográfica sobre ser uma mulher branca no candomblé. Revista Mandrágora, S.Paulo. v. 27, n. 2, 2021. P. 91-113. Disponível em https://www.metodista.br/revistas/ims/index.php/MA/article/view/1036457. Acesso em 18 de maio de 2022. 

GOINDANICH, Simone Privato. O legado de Allan Kardec. S. Paulo. Ed. USE/CCDPE.. 2ª ed. Ago.2018. 

INCONTRI, Dora. A educação segundo o Espiritismo. Bragança Paulista/S.Paulo: Ed. Comenius, dez. 2012. 

KARDEC, Allan. Revista espírita. Ano IX, n. 1, janeiro de 1866. 

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MACHADO, Denise Cardoso. Corpo, Gênero e Discurso. Corpo, Gênero e Discurso. In: Diana Alberto, Rubens de Andrade, Aldones Nino. (Org.). Paisagem e gênero: estratégias identitárias e subjetivação de corpos. 1ed.Rio de Janeiro: Paisagens Hibridas: Escola de Belas Artes: UFRJ, 2020, v. 1, p. 32-49. 

VARGAS, Myriam Aldana. Feminismo e religião: uma imbricação necessária. Revista Mandrágora. S. Paulo. v. 26, n. 2, 2020, p. 171-187. Disponível em httpps://www.metodista.MA/issue/view/1536. Acesso em 17 de maio de 2022.